O futebol uruguaio e mundial entra em luto nesta quinta-feira (16). Exatos 65 anos após o maior feito do futebol da Celeste, Alcides Edgardo Ghiggia, autor do gol da vitória sobre o Brasil na final da Copa do Mundo de 1950, faleceu. O ex-jogador, aos 88 anos, foi vítima de um ataque cardíaco e não resistiu.
Ghiggia era o único sobrevivente entre os jogadores uruguaios da final conhecida como Maracanazo, de exaltação do Uruguai e como lembrança frustrante ao Brasil, país sede da decisão, ocorrida no Maracanã. O ex-atleta já havia passado por um grave acidente automobilístico em 2012. Dessa vez, o coração não aguentou.
Apesar dos feitos prestados à Celeste Olímpica, Ghiggia também atuou na Europa, por Roma e Milan e quase defendeu a Itália na Copa do Mundo de 1958, mas a Azzurra, de suas origens, como é notável no sobrenome, não obteve classificação. Após os anos como profissional e com remuneração muito abaixo dos estratosféricos salários atuais, Alcides Ghiggia seguiu ao funcionalismo público tendo trabalhado com o capitão daquele time campeão, Obdulio Varela, em um cassino em Montevidéu.
Copa de 1950 e o nome eternizado na história
Como jogador, Ghiggia estreou na seleção uruguaia no mesmo ano em que entraria para história. Em 1950, aos 23 anos, ele fora convocado para fazer parte do grupo da Copa do Mundo, após quase ter ficado de fora. Isto porque o Peñarol, clube que defendia na época, quase vetou que seus atletas fossem para a disputa do torneio mundial. Além disso, a Celeste passava por maus resultados na preparação, tanto com as derrotas ao Brasil na Copa Rio Branco, ao Brasil de Pelotas em amistoso e tendo empatado por duas vezes com o Fluminense.
Com um grupo unido, mas ainda com desconfianças, o Uruguai encarou os compromissos no mundial. Na estreia da Copa do Mundo, Ghiggia marcou o último gol na goleada por 8 a 0 sobre a Bolívia. Com as desistências de Escócia e Turquia, a Celeste avançou diretamente à fase final. No primeiro embate desta, o Uruguai ficou no 2 a 2 com a Espanha, novamente com Alcides balançando os barbantes. O meio campo Pérez e ele eram elogiados pela imprensa de seu país, sendo respectivamente chamados de arco e flecha.
Após isso, em vitória sobre a Suécia por 3 a 2, o atacante novamente deixou o dele. A partida derradeira pelo título seria, portanto, contra os donos da casa: o Brasil. A euforia local presente em toda a capital carioca deu lugar à estrela de Ghiggia naquela tarde de 65 anos atrás. Como jogavam pelo empate, os holofotes esperavam iluminar os brasileiros com sua primeira taça diante de quase 200 mil espectadores, mas pairaram sobre o jovem e veloz uruguaio.
Aos 34 minutos da segunda etapa do jogo decisivo, com o placar de 1 a 1 estampado, uma escapada de Ghiggia resolveria o campeonato mundial de 1950. Ele corria pelo lado direito, próximo ao fundo, com pouco ângulo. Ao pensar que mandaria passe para o meio, o goleiro Barbosa se afastou da trave. Ghiggia, que já havia tentado acionar Schiaffino em lance anterior, decidiu arriscar o chute. Para o silêncio mais profundo do estádio, a pelota passou entrou o arqueiro brasileiro e o poste, correndo ao encontro das redes.
A festa dos jogadores uruguaios tomou conta daquele 16 de julho de 1950. O grito que ecoou pelo futebol mundial como uma das maiores conquistas já presenciadas no mais praticado dos esportes no globo. O Uruguai, neste 16 de julho de 2015, 65 anos depois, se despede da última testemunha em campo no feito. Mais do que isso: despede-se do protagonista, o charrua de raízes italianas que teve o mundo a seus pés no Maracanã.
A estrela na bandeira do Uruguai é o sol, a maior das estrelas a nosso alcance. Ghiggia despede-se como o sol, como o maior dentre os estrelados e lendários times uruguaios ao longo da história.