Finlândia reabre armazéns secretos da Guerra Fria para combater Covid-19
Máscaras estocadas nos armazéns secretos da Finlândia (Foto: Reprodução / Centro Nacional de Abastecimento de Emergência)

Algo histórico se passa na Finlândia! Um armazenamento de materiais médicos, energéticos e alimentícios foi reaberto no país nórdico pela primeira vez desde a Guerra Fria. Esses estoques estão espalhados por lugares secretos ao longo de todo o território finlandês. E com a falta de insumos hospitalares para o combate à pandemia do novo coronavírus, a Finlândia ganha tempo por ter guardado até mesmo respiradores, luvas, capas de proteção e suprimentos cirúrgicos. Logo, o fantasma da invasão russa que vivia no século passado ajuda, indiretamente, na batalha de combate à Covid-19.

Em novembro de 1939, a então União Soviética (URSS) ocupou a Finlândia logo após o início da II Guerra Mundial. No entanto, com o Tratado de Paz de Moscou assinado em março de 1940, a Finlândia retomou 90% de seu território. Foi a partir desse episódio que os finlandeses se viram frente à necessidade de se proteger de qualquer outra invasão. Então, o governo local tornou obrigatório o serviço militar — assim como, por exemplo, nos vizinhos nórdicos Suécia e Noruega. Junto à medida de militarização, o país desenvolveu a capacidade de estender planos de contingência perante a algumas crises: bélica, climática, informática e até sanitária.

Mesmo que o foco principal para esses planos e a militarização fosse alguma potencial invasão estrangeira, a Finlândia teve a necessidade de reativar os estoques para lutar contra o avanço do novo coronavírus, sendo capaz de ativar tal ação, que resistiu à ameaça russa na anexação da península, então ucraniana, da Crimeia, em 2014, região cuja qual sua disputa poderia respingar algum resquício ou alguma sanção aos finlandeses por terem vínculo com a Ucrânia.

Ao anunciar que o Governo social-democrata recorreria à infraestrutura do Centro Nacional de Abastecimento de Emergência (NESA, sigla em inglês) na atual crise sanitária, a diretora-geral do Ministério de Assuntos Sociais e de Saúde, Päivi Sillanaukee, afirmou no dia 23 de março que a medida foi uma 'uma decisão histórica'. Então, o país nórdico abriu pela primeira vez os estoques do Centro para que não falte objetos básicos no combate à Covid-19.

Na maior parte do planeta, o tempo econômico é comparado a tempos de guerra, em que alguns Governos — como o espanhol, o italiano e o estadunidense — impõem a produção nacional dos materiais atualmente mais escassos no mercado mundial: respiradores, luvas e máscaras. Mas, não é o que acontece na Finlândia: "O NESA existe para ajudar a construir e manter a resiliência da sociedade e da economia finlandesa", como está escrito no site do próprio Centro, dizendo que o NESA conta com um orçamento aproximado de 1,2 bilhão de euros (cerca de 6,7 bilhões de reais), financiado maioritariamente com impostos sobre a energia nacional.

Manutenção do Centro Nacional de Abastecimento de Emergência

Chefe do NESA, Jyrki Hakola contou numa recente entrevista ao jornal Helsingin Sanomat que essa rede de materiais de emergência é única em toda a Europa. Ele lembrou que a Suécia também desenvolve planos de contingência periódicos visando uma potencial ameaça estrangeira, com infraestrutura similar durante a Guerra Fria, mas o país vizinho de desfez dos armazéns nos anos noventa, logo após a queda da União Soviética.

O contrário aconteceu na Finlândia, que seguiu abastecendo esses armazéns com produtos de todo tipo: petróleo reserva para abastecimento nacional de cinco meses, cereais (de produção nacional) para alimentar a população por ao menos um semestre, tubos intravenosos, agulhas e seringas descartáveis, dispositivos de transfusão de sangue e líquidos, equipamento de intubação, cateteres, entre outros artigos, segundo lista divulgada pelo próprio Centro ao jornal finlandês.

Um dos armazéns do NESA (Foto: Reprodução / Centro Nacional de Abastecimento de Emergência)
Um dos armazéns do NESA (Foto: Reprodução / Centro Nacional de Abastecimento de Emergência)

Formalmente criada em 1993, o NESA já existia sem ser oficial desde a década de 1950, mas apenas para material militar. Depois, a extensão dos estoques para suportar crises climáticas e sanitárias, além de ataques cibernéticos.

Aos poucos, o Poder Executivo da Finlândia estabeleceu que revisaria as necessidades de abastecimento a cada cinco ou seis anos. Por isso, o agregamento de elementos como petróleo, cereais e artigos sanitários. Assim, o país recorre ao mercado internacional para compras em setores público e privado.

China e Coreia do Sul são os principais fornecedores do Centro, mas Polônia, República Tcheca e França também são parceiros oficialmente. Hakola reconheceu ao jornal Helsingin Sanomat que 'com a atual situação, é difícil obter certas coisas no mercado'.

Logística do NESA

O chefe do Centro disse: "A regra básica: é que o armazenamento amortece sobretudo o fator tempo". Logo, enquanto o Governo finlandês fecha novos contratos de compra de materiais imprescindíveis, as autoridades usam seus estoques para evitar problemas de abastecimento como os enfrentados por outros países, como Itália, EUA, Espanha e até, prematuramente, o Brasil.

Os armazéns de fornecimento de emergência estão distribuídos em todo o território finlandês a fim de descentralizar a entrega de materiais sensíveis ao povo. De acordo com informações da imprensa local, esses lugares costumam estar nas redondezas de grandes hospitais. Logo, o tempo e a distância percorrida desde que o material sai do estoque até chegar ao paciente ou ao médico são os menores possíveis. Até a sexta-feira (10), cinco hospitais universitários já tinham materiais do NESA, que estavam num lugar classificado como "secreto" pela segurança nacional.

Na medida em que outras nações brigam num mercado sobrecarregado pela demanda de produtos sanitários para o combate à Covid-19, na Finlândia 'os equipamentos de proteção pessoal não acabaram', afirma o Executivo do país europeu.

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