Como é fugir cego de uma força incompreensível? É essa a pergunta que Caixa de Pássaros traz ao espectador. O longa produzido pela Netflix e estrelado por Sandra Bullock, se distende entre navegar e naufragar ao mesmo tempo, e mesmo que isso pareça minimamente impossível, o filme de Susanne Bier consegue enroscar a âncora num cais submerso.
A história que se divide entre passado e futuro, traz consigo a jornada de Malorie, uma mãe nada maternal e completamente afogada em seus devaneios emocionais, que vive um passado regado a um drama piegas de sua frieza inconsistente e pouco cativante e um presente para lá de intrigante onde o intuito é salvar sua vida e a de seus filhos, Garota e Garoto.
A personagem mal desenvolvida, segue em uma linha tão linear quanto o enredo, que insiste em forçar a barra com personagens mal estruturados que pareciam vagar num enorme limbo, levando consigo boa parte da qualidade fílmica que tanto prometia.
Com referências clichês e seguimentos de grupo que mais pareciam um The Walking Dead numa sessão espírita, o passado se arrastava comparado as cenas no presente, onde o trio literalmente navegava cego num suspense que acionava vida, morte e loucura, resgatando em sua viagem bagagens e memórias que enganchavam com propriedade a catástrofe que acometia a personagem principal internamente.
Apesar da trama trazer uma história interessante, o desenvolvimento deixa em branco a origem de todo o caos abordado e da força que circundava o mundo e isso faz com que o enredo estacione no drama de Malorie, trazendo-a para foco quando o espectador queria girar em outro eixo.
Houve uma quantidade tão grande de furos de roteiro que por um momento era possível pensar que a venda para tapar os olhos foi usada até mesmo na produção de Bird Box.
O longa apesar de acionar em sua estrutura falhas irremediáveis, abarca uma boa história digna de ser apreciada e vivenciada.