CRÍTICA | Aniquilação
(Foto: Divulgação/ Netflix)

Não vá assistir esse original Netflix se você espera uma obra preto no branco, mastigadinha, sem nuances e subliminares. Aniquilação é uma adaptação literária de terror cósmico que aborda a natureza humana e sua autodestruição, ao mesmo tempo que descreve conceitos de mudança, sofrimento e sobrevivência. Nada disso faz a trama algo down ou melancólica. Pelo contrário. Assim como boa parte dos personagens centrais, nós queremos entender o fenômeno denominado "O Brilho". Uma cúpula gerada após uma colisão meteórica, tal anomalia refrata, transforma, converge tudo em seu interior. 

Assim como o conceito cromático da luz que passa pelo prisma sendo refratada (capa do CD "Pink Floyd - The Dark Side of the Moon"), ou do arco-íris que nada mais é do que a luz solar refratada por gotículas de água suspensas, O Brilho refrata também o som e o DNA de tudo. Ele converge formas animais com vegetais, fungos, e certamente, tudo isso com os humanos que por ele se aventurarem. 

A trama foca uma bióloga e ex-militar (Portman) tentando investigar a área afetada pelo fenômeno alienígena, junta de outras quatro pesquisadoras. Sabido é que ninguém que foi retornou, exceto o namorado da protagonista.  Motivo pelo qual a personagem aceita a missão suicida, pois ela "devia isso ao rapaz", após um vacilo cometido no passado - e põe vacilo nisso -  que por fim, combina também com as justificativas das demais pesquisadoras. Cada uma desapegada da vida por um motivo. 

O que temos de melhor na premissa? Certamente a criatividade na "ameaça" extraterrestre, seu conceito visual é ao mesmo tempo belo e perturbador. A fotografia usa literalmente do Brilho para melhor ambientar a atmosfera. Outro aspecto interessante, mas que pode desagradar alguns, é o abstrato dissertado no filme através dos efeitos do Brilho. Seu significado se quer é ruim, não passando de uma forma de vida que muda as coisas ao seu redor, ressaltando filosoficamente a natureza humana. Digamos que até mesmo os momentos mais intensos e viscerais do filme nada mais sejam do que metáforas para salientar seu verdadeiro tema. Aquilo que ele parece apontar com todas as forças. Se isso não for captado, digerido, reconhecido, pouco valerá a experiência. 

Por isso o lado bom, pode acabar se tornando o lado ruim. Essa mesma subjetividade acaba por deixar certas coisas "no ar" demais. Como o final que vai além de divergir opiniões. Ele provavelmente não será de fato entendido. Claro que diálogos expositivos, ou o bater da mesma tecla da "autodestruição" que ocorre por todo o filme, não são a solução. No entanto, as coisas poderiam ser mais assertivas no quesito da narrativa.

E como último "puxão de orelha", ressalto a falta de preparo tático do quinteto de pesquisadoras e da missão como um todo. A justificativa do "não me importo mais em viver" de cada uma, não faz o claro desleixo no preparo da operação cabível. Sem trajes hermeticamente fechados? Sem treinamento militar devido? Não adianta ser PHD se não vai sobreviver para publicar a próxima tese. Mas, como um todo, Aniquilação é um bom e interessante filme. 

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