CRÍTICA: Seven Seconds é uma das séries mais importantes da atualidade
(Foto: Divulgação/Netflix)

Algumas semanas atrás, a Netflix lançou Seven Seconds, série que passou despercebida por muitos em meio a outros grandes lançamentos, mas espero com esse texto fazer você dar uma chance para ela, pois ela traz questões importantes e reais sobre a nossa sociedade, além de ser um espetáculo visual.

A série começa com um policial atropelando alguém, ele pede ajuda aos seus colegas de trabalho que o aconselham a deixar o local sem prestar socorro enquanto eles trabalham para limpar as pistas. O atropelado em questão foi Brenton Butler, um jovem negro, que fica entre a vida e a morte. KJ e Fish iniciam então um processo de investigação para encontrar o responsável e as respostas necessárias sobre o dito "acidente".

O enredo não parece muito original, mas o que o rodeia vai acrescentando mais e mais camadas à trama. Vemos aqui o sofrimento e a busca de respostas da mãe, o desejo de seguir em frente e deixar tudo para trás do pai, a advogada com problemas com álcool, mas que se envolve diretamente com a família, o racismo e a corrupção dentro da polícia, as manifestações dos negros em busca de justiça, entre outros pontos.

O roteiro é muitíssimo bem escrito por Veena Sud (mesma criadora de The Killing), a série nos mostra pontos de vista, ela opta por não esconder o mistério, pois o importante aqui não é o que aconteceu, mas as consequências desse acontecimento. Pelo final da temporada começa o arco do julgamento que é brilhante, e quando a gente acha que a série vai pelo caminho mais fácil e ficcional, ela nos dá um soco no estômago e nos mostra que ela está ali para expor a verdade.

As atuações são ótimas em geral. O show aqui é de Regina King, que interpreta a mãe do Brenton e transmite com perfeição todo o sentimento de perda, geralmente um ator inexperiente deixa um papel assim caricato, mas com ela vemos humanidade, tudo é muito palpável e verdadeiro. Mas o restante do elenco também não fazem feio, Clare-Hope Ashitey, Russell Hornsby, Michael Mosley, Nadia Alexander, estão todos muito bem.

Visualmente a série é um espetáculo, todo aquele ambiente frio e sem cor simboliza com perfeição a melancolia que permeia o ambiente, a cidade se torna um personagem a mais para a trama. A trilha sonora também ajuda a simbolizar o ambiente, sempre pontual, brilhante até em suas ausências. O ritmo da série é ótimo também, apesar de os episódios serem longos, ela usa seu tempo para desenvolver bem o arco e os personagens, e tudo tem influência, ela não perde tempo com coisas desnecessárias. São dez episódios e todos eles trazem novos questionamentos.

Assistir a essa série na semana em que aconteceu o assassinato da Marielle Franco é uma experiência pesada, mas necessária, e não tem como não associar a ficção com a realidade neste caso. Vemos os mesmos interesses, as mesmas denúncias e o mesmo sentimento de revolta. Assistir a Seven Seconds é engolir seco e observar a forma com que observamos a sociedade, e tomar conhecimento de que um assassinato não diz respeito a somente aquilo que a pessoa é, mas tudo aquilo que ela representa.

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