'Pantera Negra' e a importância da representatividade
O mais novo filme da Marvel traz pautas de inclusão e luta contra o preconceito (Créditos: Divulgação/Marvel)

Após um imenso frisson causado antes da estréia, na última quinta-feira (15), a Marvel enfim lançou seu mais novo longa-metragem intitulado Pantera Negra, adaptação da série de quadrinhos homônima que retrata o primeiro grande protagonista negro no universo dos super-heróis. Com 95% de seu elenco formado por atores negros, incluindo grandes nomes como Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o e Forest Whitaker, o filme já gerou muita repercussão (tanto favorável quanto contrária) antes mesmo de ser disponibilizado nas salas de cinema. Mas em pleno ano de 2018, qual o tamanho da importância social e do legado cultural para a indústria de uma obra como esta?

Uma breve história

Na década de 60, os Estados Unidos viveram uma era de intensas mudanças sociais e políticas, e no cerne disso estavam os movimentos pelos Direito Civis liderados por cidadãos afro-americanos contra as leis segregacionistas que estavam em vigor em muitas partes do país. Nesse contexto, foi fundado na Califórnia o Partido dos Panteras Negras, que visava, entre outras coisas, a auto-proteção da comunidade negra em relação a opressão policial. Com isso, o todo-poderoso da Marvel Stan Lee cria, em 1966, o primeiro super-herói de origem africana a figurar entre os grandes quadrinhos norte-americanos, porém sem nunca ter admitido oficialmente que o nome de seu personagem fazia referência ao movimento.

As variadas repercussões e como isso pode ajudar a entender a importância da obra 

Com tudo que foi dito sobre o longa antes do lançamento, muitas pessoas nos EUA tiveram reações negativas em relação a questão da representatividade: alguns grupos se organizaram para dar notas baixas em plataformas de avaliações de filmes como o Rotten Tomatoes, em um claro gesto de protesto contra a diversidade ganhando cada vez mais espaço em um meio que sempre foi majoritariamente branco e masculino.

Tendo mais de três mil membros, o grupo, nomeado de Down With Disney's Treatment of Franchises and its Fanboys (“Abaixo o tratamento da Disney para suas franquias e seus fãs" em inglês), já havia se organizado anteriormente para dar notas baixas ao filme Star Wars - Os Últimos Jedi por acreditar que a franquia estava utilizando ideais "esquerdistas". O objetivo do grupo seria fazer a mesma coisa com o Pantera Negra, porém o próprio site barrou a mobilização, alegando que a empresa não dava espaço para "discursos de ódio".

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O legado para Hollywood e a representatividade

O que já é de conhecimento geral é que a maior indústria cinematográfica do mundo possui um histórico bastante racista, seja na forma de representação do negro na dramaturgia ao longo das décadas e reforçando estereótipos, quanto na distribuição desigual de oportunidades em todos os setores da produção audiovisual. Um estudo publicado em 2017 pela Universidade de Southern, na Califórnia, apontou que brancos representavam 70,8% dos papéis com falas nos cem títulos de maior bilheteria de 2016, enquanto os atores negros eram apenas 13,6%, de um total de 4.583 personagens.

Esses números chocam, mas qualquer pessoa que consome os filmes e séries estadunidenses consegue notar claramente que há uma predominância étnica, tanto pelo lado dos personagens, quanto dos diretores, produtores, roteiristas e outras funções de "poder" ligadas ao cinema. Por essas e outras, Pantera Negra já é um marco na história da indústria, pois com o elenco majoritariamente negro (inclusive na produção), comandado por Ryan Coogler (diretor de Creed), finalmente um grande blockbuster com alcance mundial consegue representar com justiça o orgulho e a herança cultural africana, colocando negros como reis, rainhas, príncipes e heróis, e não apenas como criminosos, vilões ou serventes aos brancos.

A própria cidade fictícia de Wakanda (terra-natal do protagonista) também é algo a se destacar, por mostrar uma região da África que não foi colonizada, não sofre nenhum tipo de interferência europeia e é extremamente rica, poderosa e evoluída tecnologicamente, fugindo do retrato depreciativo da mídia que mostra o continente apenas para falar da fome, das guerras e da escassez.

Chega a ser raso tentar calcular o tamanho da importância que um filme de bilheteria como esse tem para a sociedade, pois agora uma criança negra poderá ir ao cinema, olhar o cartaz e ver sua cor representada como algo para se ter orgulho, e conseguir admirar um herói com que ela possa, realmente, se identificar.

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