O filme que encerra a trilogia do Deus do Trovão estreou sem muita expectativa dos fãs, já que “Thor” e “Thor 2: O Mundo Sombrio” são dois dos maiores (e poucos) fracassos da Marvel até hoje em sua trajetória de sucesso, que está próxima de completar dez anos no cinema. Para o terceiro filme, o diretor neozelandês Taika Waititi, conhecido por seu humor característico, foi contratado, e o resultado não poderia ser outro: uma comédia pastelona e agradabilíssima de assistir. Perfeito para desestressar depois do expediente e dar boas risadas.
No filme, Thor (Chris Hemsworth) é preso do outro lado do universo e perde o seu martelo poderoso, encontrando-se numa corrida contra o tempo para voltar a Asgard e impedir o Ragnarok – a destruição do seu mundo e o fim da civilização Asgardiana –, que se encontra nas mãos de uma nova e poderosa ameaça, a implacável Hela (Cate Blanchett). Mas, primeiro, precisa sobreviver a uma luta mortal de gladiadores, que o coloca contra um ex-aliado e companheiro Vingador: Hulk (Mark Ruffalo).
O bom humor do filme é o primeiro ponto que merece destaque. Engraçado do início ao fim, Taika brinda o público com cenas hilárias que certamente ficarão na memória de muitas pessoas. Chris Hemsworth parece ter nascido para fazer comédia, assim como Mark Ruffalo, que de Hulk, ou mesmo de Bruce Banner, traz nesse filme uma interação dinâmica com o protagonista que chega a ofuscar em alguns momentos outros personagens da trama em cena.
Tessa Thompson é a maior surpresa do longa. A atriz interpreta a personagem Valquíria, uma guerreira “aposentada” de Asgard, e nos traz uma personagem mulher forte, mas sem perder a feminilidade. Algo comum com figuras femininas em filmes – que servem apenas de interesse amoroso para o mocinho –, ela não é uma personagem vazia. Uma adição louvável à trama e ao MCU como um todo, que carece de mais mulheres que chamem a “responsa” sem precisar serem hipersexualizadas para chamar a atenção.
Cate Blanchett está absolutamente deslumbrante, como sempre. Hela é uma vilã elegante e com potencial enorme, sendo talvez a mais poderosa que já tivemos em um filme da Marvel, à exceção de Thanos, que está por vir e ainda não mostrou, de fato, ao que veio.
Tom Hiddleston retorna ao papel de Loki e tem menos tempo de tela comparado aos longas anteriores. No entanto, quando aparece, ganha o público com seu carisma habitual. Outro que merece destaque é Jeff Goldblum, o Grão-Mestre, que está impagável com seu personagem excêntrico e, até certo ponto, polêmico.
Apesar de ter poucos minutos de cena, Benedict Cumberbatch retorna ao papel de Doutor Estranho, o Mago Supremo da Marvel, e sua presença é fundamental para um momento importante do longa. Imponente com seu manto de levitação, o ex-cirurgião parece mais bem adaptado à sua nova função de protetor das atividades místicas e sobrenaturais da Terra e muito mais poderoso do que em seu filme solo, lançado há menos de um ano.
No entanto, não são todas as piadas do longa que funcionam e outras chegam a dar uma ponta de vergonha alheia, mesmo porque em 2h10 de filme é impossível atingir 100% de aproveitamento. Algumas cenas são tão galhofas que podem parecer até ridículas para quem não está acostumado com o humor “pastelão” de Taika, como, por exemplo, as que envolvem Korg, um gigante de pedra de voz fina dublado pelo próprio diretor.
Lady Sif, presente nos dois primeiros filmes e interpretada pela atriz Jaimie Alexander, sequer dá as caras no longa. Seu sumiço gera um desapontamento em parte dos fãs que gostaria de ver pelo menos um arco de encerramento da personagem, que ao que parece não deverá mais retornar ao MCU.
Apesar de ótima vilã, Hela não é tão bem aproveitada quanto se pode imaginar. Sua personagem deixa uma certa ponta de lamentação por não ter sido tão bem explorada. Tanto seu passado quanto sua motivação ficam perdidas em meio à enxurrada de situações que acontecem durante a trama e que não dão tempo suficiente para o desenvolvimento da personagem. Uma pena.
Outro subaproveitado é Karl Urban, como Skurge, o Executor. Com poucas falas, o guerreiro de Asgard entra mudo e sai calado na trama.
Talvez não fosse o filme que os fãs mais fervorosos do filho de Odin quisessem ou estivessem esperando. Julgando pelo título, Ragnarok, o apocalipse da mitologia nórdica, poderia ter sido adaptado de uma forma mais densa e dramática, como o “fim de tudo” costuma ser. Quem conhece a Marvel, no entanto, sabia que nada disso aconteceria. O 17º filme da Marvel é mais uma comédia “pipoca” ao maior estilo “Sessão da Tarde”, o que não é de todo ruim.