Crítica: LOVE, segunda temporada
Imagem: divulgação

    A comédia romântica Love, mais uma original da Netflix, teve no último dia 10 sua segunda temporada disponibilizada. Os fãs aguardavam por novos episódios há mais de um ano, já que os primeiros  foram lançados em fevereiro do ano passado. 
    A série protagonizada por Gillian Jacobs e Paul Rust foi bem recebida pelo público e traz uma visão bastante realista de relacionamentos. Os personagens são bem construídos e trazem uma forte carga emocional que transparece durante toda a série. Apesar de possuirem perfis bastante distintos, tornam-se cada vez mais evidentes as dúvidas, traumas e inseguranças que cada um carrega. Além disso, aborda temas como o alcoolismo e vício em amor e sexo de forma bastante didática. 
    No início da série, é praticamente inevitável enxergar Gus (Paul Rust) como um cara legal e que se esforça o tempo todo para agradar, mas essa visão não dura muito. No decorrer dos episódios e das situações em que o personagem é colocado, é possível passar a enxerga-lo como um chato que fala sem parar sobre coisas que as pessoas aparentemente não estão interessadas. Sempre tentando ajudar, ele causa certa irritação com seu jeito de tentar ser amado a qualquer custo, sentindo-se injustiçado quando não correspondido, algo semelhante ao personagem Ted Mosby (Josh Radnor) na série How I Met Your Mother, e Ross Geller (David Schwimmer) em FRIENDS.
    Na contra mão dessa necessidade de agradar a todos o tempo todo temos Mickey (Gillian Jacobs). A primeira impressão dela é de alguém que simplesmente não se importa com a opinião de ninguém sobre nada. Inicialmente, é possível que o expectador só enxergue uma jovem inconsequente que busca diversão, porém, com o decorrer da série, fica evidente a confusão e insegurança que ela carrega dentro de sí. Viciada em álcool e drogas, a personagem luta contra o histórico de alcoolismo da família. Além disso, seu vício em sexo e amor a coloca em relacionamentos abusivos, dos quais ela sai ainda mais confusa e perdida. 
    Um ponto interessante sobre a websérie é a recepção do expectador, que pode tentar “escolher um lado” durante os desentendimentos do casal. Essa dualidade é exaustiva e falha por conta da boa construção dos personagens e seus motivos para assumirem determinados comportamentos. A moral de que é perda de tempo classificar uma decisão como certa ou errada é constante e conversa diretamente com os “mantras” dito diversas vezes pelos personagens, como: “não vou julgar”, “não me julgue por isso’ ou “parece que você está me julgando”.
Partindo do ideal de não julgamento, é inevitável mencionar a postura da personagem Bertie (Claudia O’Doherty), colega de casa de Mickey. Ela é apresentada desde o início como uma pessoa alegre, amigável e um pouco duvidosa. A australiana recém chegada a Los Angeles parece estar sempre de bom humor, porém, aos poucos revela em tom de brincadeira algumas de suas “loucuras”, sempre fazendo parecer que nada é tão ruim assim. Muitas vezes Mickey a chateou, porém, Bertie permaneceu ao seu lado sem julgar suas decisões e comportamentos. A personagem traz um tom materno e paciente através da ausência de julgamentos e presença de conselhos reconfortantes que foram, muitas vezes, a única coisa que Mickey precisou ouvir. 
Por trás dessa figura bondosa, houve a oportunidade bem aproveitada de se explorar o lado ingênuo da personagem. Seu namorado Randy (Mike Mitchell) aproveita-se da boa vontade de Bertie. O rapaz pega uma grande quantidade de dinheiro emprestada dela sem saber quando (e se) vai poder pagar, além de passar a praticamente morar na casa das duas sem permissão. Por trás desse comportamento espaçoso ele ainda revela-se violento em determinados episódios quando está sob efeito de drogas ou álcool, porém, a australiana vive relevando isso inocentemente. 
Quando falamos em inocência é válido ressaltar o papel de Iris Apatow como Arya. A estrela mirim da série “Bruxaria”, onde Gus também trabalha, é o retrato perfeito da situação hollywoodiana à qual atores infantis são expostos. Cercada de adultos o dia todo, a menina sofre com a falta de amigos e da vida de uma criança normal. Durante as aulas particulares que é obrigada a assistir no set (ministradas por Gus), a menina desabafa sobre seu cansaço e situações familiares conturbadas. A cobrança dos pais para que ela cresça cada vez mais na carreira a sufoca e deixa confusa. É um dos conflitos internos mais facilmente perceptíveis na série 
A quebra de expectativa em relação às comédias românticas tradicionais através desse aprofundamento hiper real dos sentimentos de todos os personagens é um aspecto bastante notável e positivo na série. A sonorização e fotografia impecáveis colaboram para a não exaustão dos episódios. A dinamicidade com a qual os fatos vão se desenvolvendo é bastante sutil e precisa. Além disso, a direção de Judd Apatow e Lesley Arfin mostra-se irretocável. A terceira temporada da série já foi confirmada, porém ainda não conta com data de estreia.

Nota 3/5

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