Todo o mal e tristeza presente na vida das pessoas foi causado pelo herói, e é justamente disso que esse excelente sétimo episódio se trata, trazendo um peso dramático bem estruturado que ainda não havia sido visto em The Flash.
A trama nessa terceira temporada tem como foco central as consequências do que foi alterado em Ponto de Ignição. Todos os indivíduos próximos a Barry sofreram de alguma maneira com sua viagem no tempo. Todos mudaram após o ocorrido, com o time tendo se quebrado. Todos ali ocultaram sentimentos, tentando escondê-los deixando as feridas tapadas e reunindo um pouco do que sobrou para de alguma maneira voltarem gradativamente ao que possuíam anteriormente como um time. Um dos diálogos de Cisco no fim do episódio demonstra bem o que houve aqui: às vezes, quando alguma coisa se quebra, não tem como consertar. Não havia mais como esconder, todos encontravam-se feridos, e Caitlin ter perdido o controle sobre suas habilidades foi o gatilho para que todos aqueles sentimentos ocultos se manifestassem e as feridas viessem à tona mais uma vez. Cailtin então como Killer Frost, descarregou em Barry tudo aquilo que vinha sendo reprimido em todos. Eram sentimentos que precisavam ser liberados, da mesma maneira que Barry precisava escutá-los.
Esse peso dramático foi satisfatoriamente incorporado e passado por Grant Gustin (Barry), Danielle Panabaker (Caitlin), Carlos Valdés (Cisco) e surpreendentemente por Candice Patton (Iris), que, de maneira delicada, se fez presente ao lado de Barry o tempo inteiro, de uma maneira não tão clichê como em episódios anteriores. Presenciar Carlos Valdés em lágrimas expressando tudo o que queria falar para Barry foi, não apenas tocante, como também demonstra que o personagem não está ali somente para momentos cômicos, inventar nomes para os meta-humanos ou mesmo para ficar fazendo referências nerds.
Como o esperado, Caitlin deve ser a principal reconhecida por esse episódio. Sua transformação em Killer Frost tem sido desenvolvida gradativamente episódio após episódio e aqui atingimos um novo nível. O confronto interno de Caitlin, o relacionamento conturbado com a sua mãe, os sentimentos e atos da personagem demonstraram um desenvolvimento em uma personagem feminina não ligado a romantismo, algo que raramente ocorre nas séries da DC da CW. E foi o roteiro e interpretação bem executados que fez “Killer Frost” ser um ótimo episódio nesse conjunto.
Wally West teve uma participação pequena, mas gradualmente tem evoluído nesse novo ano também. A maneira com que saiu do casulo (literalmente) foi intrigante e imagino que o Kid Flash pode acabar sendo uma grande adição a trama. Algo interessante é que, ainda que tenha adquirido as habilidades de maneira bem distinta das HQ’s, seu desenvolvimento está bem próximo aos quadrinhos, já que Wally inicia sendo mais rápido do que Barry era no começo. Nos quadrinhos, depois que o personagem entra em contato com a Força de Aceleração, Wally torna-se mais rápido que Barry.
O restante da trama foi focada em Savitar, que depois de seu surgimento no fim do episódio anterior, deu um gostinho de seu potencial. Ou ao menos tentou, já que nada realmente aconteceu. Somente a fórmula novamente. Um velocista antagonista surge, demonstra o quão superior são suas habilidades comparadas as de Barry e some para arquitetar seu plano que dura até a season finale. Devo ressaltar que a sequência inicial do confronto entre Barry e Savitar que poderia ter sido extraordinária e surpreendente, não conseguiu transmitir esse efeito. Os efeitos da série encontraram-se inferiores nesse episódio em comparação com os outros. Dava a impressão de que a sequência ainda não estava pronta. A série já conseguiu fazer melhor que isso.
O grande questionamento do momento é: Por que Savitar necessita de Doutor Alquimia como seu ajudante? Sua transformação no velocista dependeria da Pedra Filosofal? Ainda não possuímos uma resposta, mas esperemos que o motivo seja lógico. Lógica é algo que a série precisa tomar um certo cuidado tratando-se de seus antagonistas, após o irregular desenvolvimento de Zoom no ano anterior. Savitar possui potencial, basta saber utilizá-lo.
Falando em Alquimia, sua verdadeira identidade finalmente foi revelada e como já esperávamos, trata-se de Julian. O personagem teve grandes momentos nesse episódio, e a excelente atuação de Tom Felton deve ser reconhecida, espero que ele cresça ainda mais dentro da série. Julian foi o mais claro possível com Barry sobre sua opinião. A partir desse ponto a barreira entre eles cresceu ainda mais e veremos como Barry lidará com a situação agora que foi obrigado a se demitir.
Barry Allen foi o grande responsável por tudo e agora ele está sofrendo diretamente com as consequências de seus erros. Chegou o momento do herói entender, refletir a aprender com seus erros para, enfim, evoluir. Era disso que o personagem estava carecendo no momento e esse foi um grande ponto positivo do episódio, que com exceção de pouquíssimos detalhes, conseguiu manter a qualidade do episódio passado, se não o ultrapassou. Esperamos acompanhar o personagem evoluindo de um jeito bem desempenhado. O personagem necessita e é digno disso. O próximo episódio fará parte do grande crossover.
PS: Na review anterior havia dito que seria irônico caso Julian realmente fosse o Doutor Alquimia, a ironia se provou verdadeira.
Lista de referências:
- Nevasca (Killer Frost no original), iniciou como antagonista de Nuclear (Firestorm) nas HQ’s. A vilã também já chamou-se Crystal Frost e Louise Lincoln. O beijo congelante da Nevasca utilizado nesse episódio é um dos golpes mais conhecidos da personagem nas HQ’s.
- Em uma sequência, HR fala que seu trabalho com Joe West seria um “All Star Team-Up”, referenciando o nome de uma HQ da Era de Ouro da DC, e também o título de um episódio do primeiro ano da série.
- Em outra sequência, é possível ver o nome da empresa de comida congelada onde Nevasca levou Julian: Ledded Goh, algo semelhante a música Let it Go, de Frozen: Uma Aventura Congelante. A piada foi utilizada pelo diretor Kevin Smith já que o episódio tem como foco a antagonista Nevasca.
- Quando Caitlin está na residência do Acólito, sendo “influenciada pelo lado sombrio”, o compositor da série Blake Neely fez alguns arranjos sonoros na trilha bem parecidos com o tema do Império na trilogia clássica de Star Wars.
- Na sequência em que Barry deixa o laboratório depois de ter se demitido, é possível vermos um raio cruzando o céu. Trata-se do diretor homenageando sutilmente o episódio piloto da série.
- Esse é o segundo episódio da série que Kevin Smith dirigiu. O primeiro foi o episódio “The Runaway Dinosaur” no segundo ano. Ele também foi o diretor do ainda inédito episódio 9 do segundo ano de Supergirl, chamado “Supergirl Lives”, que será transmitido em duas semanas. Kevin também já trabalhou nas HQ’s roteirizando algumas histórias do Arqueiro Verde.
- O diretor Kevin Smith e o ator Greg Grunberg (detetive Patterson) apresentam um talk show cômico na AMC intitulado Geeking Out.
- Primeiro episódio com a participação do ator Greg Grunberg, conhecido por sua parceria com J.J. Abrams, tendo participado em muitos de seus filmes e séries, tais como Alias, Lost, Star Trek: Sem Fronteiras, Star Wars – O Despertar da Força. Seu personagem mais famoso foi o Matt em Heroes.
- 52 Spot It: A cela em que Nevasca foi presa é a cela 52, referenciando os Novos 52, o reboot das HQ’s da DC.
- Mais uma referência Nerd de Cisco Ramon: “Você me assustou um pouco com esse cabelo de Mãe dos Dragões” (Daenerys, de Game of Thrones).