CRÍTICA: The Flash 03x06 - Shade
(foto:divulgação)

Depois de um começo inferior às expectativas, o terceiro ano de The Flash recuperou o nível de antigamente e isso se deve a esse sexto episódio repleto de conteúdo, sequências de ação, plot twists e revelações. Por coincidência, o nome do episódio do novo ano de Arrow combinaria perfeitamente aqui justamente pois o arco central dessa temporada de Flash enfim teve início.

Já é nítido que The Flash (assim como as outras séries DC da CW) possuem uma mesma fórmula estrutural. Ela consiste basicamente em desenvolver as temporadas da seguinte maneira: Começo, antagonista sendo introduzido, crossover principal, midseason finale, problema sendo desenvolvido, crossover secundário, season finale. Ainda que essa fórmula já esteja manjada, ela não causa grandes incômodos. O que mais chega a incomodar aqui é em ficarem reciclando/repetindo as tramas. E é o que está acontecendo novamente, com a série utilizando mais um velocista como antagonista e havendo mais um mistério a respeito da identidade de um dos vilões. Ainda que nessa temporada estejam trabalhando com inimigos levemente diferentes dos utilizados anteriormente, a fórmula continua se fazendo presente, disfarçada (e de um jeito não muito discreto algumas vezes). O roteiro permanece errando nesse aspecto.

Como havia comentado nas reviews passadas a respeito de Julian, os produtores não teriam escalado um ator de calibre como Tom Felton para utilizá-lo somente como um personagem sem grande relevância no núcleo da delegacia. E gradativamente a série vai o ligando ligeiramente como identidade do Doutor Alquimia. Em vários momentos em que Barry está conversando com alguém sobre o antagonista ou outro meta-humano, Julian se faz presente discretamente nas cenas. No fim do episódio o personagem não vai trabalhar e permanece sumido, “coincidentemente” bem na hora em que Alquimia está agindo.

O ponto problemático é: Ou estão utilizando essas muletas de roteiro sem nem ao menos disfarçarem direito por não saberem como inovar de forma criativa, ou estão fazendo isso de maneira proposital para nos despistar da real identidade do antagonista. Levando-se em consideração que essas muletas são precisamente as mesmas utilizadas nos anos anteriores, cabe aos roteiristas resolverem esses empecilhos antes que a série acabe caindo definitivamente na maldição da season 3 (assim como Arrow).

Ainda que tenha gostado muito desse episódio, se fazia necessário que eu falasse a respeito disso porque já estamos no terceiro ano seguido e se a maneira como desenvolverem e concluírem essa temporada não seja inovadora comparada com as temporadas anteriores, isso provará que The Flash está presa num círculo vicioso do qual seja improvável que ela consiga escapar. Porém, ainda estamos relativamente distantes de chegarmos a essa conclusão definitiva, então focaremos no estágio estrutural do terceiro ano em que nos encontramos: Introduzindo o antagonista. 

Esse terceiro ano já havia conseguido me animar por possuir um antagonista diferente das temporadas anteriores, o Doutor Alquimia. Nesse episódio alguns dos questionamentos levantados nos episódios iniciais estão começando a serem respondidos e tivemos a introdução do verdadeiro antagonista dessa temporada: Savitar, o Godspeed, ou Deus da Velocidade. Seu surgimento no fim desse episódio foi uma grata surpresa chocante que me fez ficar ansioso pelo próximo episódio. Ainda que também seja um velocista, sua fisionomia e suas habilidades monstruosas proporcionam uma ameaça bem diferente ao protagonista e a Central City, tratando-se um deus, como ele se autoproclama, e que, caso tenha um bom desenvolvimento durante o novo ano, pode acabar sendo o maior perigo que o Barry já enfrentou. Isso dependerá de um trabalho satisfatório do roteiro para nos deixar surpreendidos e presenteados com uma season excelente. 

Savitar foi somente a ponta do iceberg desse episódio, pois até o momento de seu surgimento ter chegado, muitas coisas ocorreram: Flash contou ao time os mais relevantes eventos modificados em Flashpoint, Wally West descobriu a respeito de suas habilidades como Kid Flash, Caitlin Snow contou sobre suas habilidades como Killer Frost para todos e uma nova ameaça meta-humana apareceu.

Esse antagonista foi o Penumbra (Ou Shade no original) que nomeou esse episódio. Um dos mais famosos antagonistas do Flash nas HQ’s foi desperdiçado aqui, tendo sido reduzido a mais um caso de semana procedural, já que suas ações em Central City foram apenas uma distração gerada pelo Doutor Alquimia, que já tinha sua próxima vítima demarcada. As ações de Shade e suas aparições até foram legais, porém sua derrota foi muito simples (sendo mais uma em que o Flash mal luta contra ele sem que o time pense em alguma coisa para neutralizá-lo com seus esquemas científicos) sem termos nem tomado conhecimento de sua real identidade. Nem vimos direito a face do ator responsável por interpretá-lo. Acredito que o roteiro poderia ter utilizado aqui um antagonista de pouca relevância para que não houvesse um desperdício com um personagem de peso. Quem sabe ele acabe voltando eventualmente. 

A distração descrita acima foi gerada para que Alquimia alcançasse a sua verdadeira vítima: Wally West. Os sonhos e visões dele que levaram Barry a resolver contar ao time sobre os eventos modificados em Flashpoint. Já havia dito isso em outra review e volto a repetir que Wally enfim está sendo melhor utilizado. Gostei bastante do personagem nesse episódio e suas sequências como Kid Flash em seus sonhos me empolgaram ainda mais para presenciá-lo em breve como um velocista sendo um parceiro de Barry contra o crime. Pela conclusão desse episódio, aparentemente isso não demorará demais e até o final desse novo ano pode ser que ocorra.

Outra personagem que desde os episódios anteriores permanece evoluindo bastante é Caitlin Snow. Estamos na parte em que suas habilidades foram reveladas ao grupo. Os momentos entre ela e Cisco nesse episódio conceberam sequências brilhantes de ambos juntos. São essas cenas que dão um impulso na vida dos personagens secundários, costumeiramente utilizados como alívios cômicos, e que são capaz de nos fazer os amar e nos relacionarmos com eles ainda mais. E no próximo episódio presenciaremos esse plot atingir um novo nível.

“Shade” foi definitivamente o melhor episódio desse novo ano. Sem sombra de dúvida, com o perdão do trocadilho. Ainda que muita coisa tenha ocorrido em somente um episódio, souberam distribuir e dosar tais coisas corretamente. Os plot twists e revelações ocorreram em sequência, gradualmente até fulminar no empolgante encerramento desse episódio. Era de um episódio com esse ritmo que o novo ano verdadeiramente precisava para acordar. O próximo episódio promete, aguardando ansiosamente.

P.S.: Será muito irônico se o personagem de Julian realmente for o Alquimia. O antagonista utiliza uma pedra filosofal, dialoga por meio de vozes sussurrantes na cabeça dos indivíduos e é o vilão do herói que possui um raio como símbolo. Isso parece familiar?

P.S.2: Quando escuto a voz de Tobin Bell como Doutor Alquimia, fica impossível pra mim não imaginar ele falando “I want to play a game” ou “Let the games begin”. Bons tempos de Jigsaw.

P.S.3: HR está hilário. Tom Cavanagh está sendo um ótimo alivio cômico.

P.S.4.: Houve mais uma citação ao Gorila Grodd. Espero muito assistir um episódio em Gorilla City. Ainda nesse novo ano, de preferência.

Lista de referências:

- Esse foi o episódio de número 52, um número que a série utiliza frequentemente como referência ao reboot das HQ’s da DC Comics.

- Penumbra (Shade) é um conhecido antagonista do Flash Jay Garrick na Era de Ouro das HQ’s. Sua verdadeira identidade é Richard Swift, que já auxiliou Starman num confronto em Opal City. Para quem não se recorda e o conhece pelas HQ’s ou já assistiu as animações da DC, Penumbra é aquele vilão que utiliza uma bengala e uma cartola.

- Savitar é um forte antagonista das HQ’s. Sua real identidade é um mistério, contudo já foi revelado que tratava-se de um piloto aéreo de testes que foi atingido por um raio, lhe proporcionando suas habilidades. Entre elas, a de usurpar a força de aceleração dos outros velocistas. O antagonista escolheu a alcunha de Savitar para homenagear o deus hindu do movimento. Seu rival principal era o Kid Flash, Wally West, que conseguiu derrotá-lo com o auxílio de Barry Allen.

- Na série, quem dubla o antagonista Savitar é o ator britânico Ciarán Hinds, mais conhecido como o Mance Rayder de Game of Thrones e Alberforth Dumbledore, em Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2.

- Cisco Ramon e suas referências nerd 1: “Você acabou de nos neutralizar?”, referenciando o longa MIB: Homens de Preto.

- Cisco Ramon e suas referências nerd 2: “O iluminado? Eu amo esse filme” (visivelmente assustado).   

VAVEL Logo