Todo mundo sabe que Black Mirror é uma série pra chocar o expectador mostrando o lado sombrio da tecnologia, e essa premiere conseguiu de uma forma incrível alertar sobre um tema bastante frequente nos dias de hoje.
Lacie (Bryce Dallas Howard) vive em um mundo onde as pessoas são avaliadas de acordo com tudo o que fazem, e quanto maior essa pontuação, mais privilégios a pessoa consegue em meio a sociedade.
Se identificou com a trama? Então o episódio cumpriu seu papel. Afinal, mesmo quem não tem essas características, certamente conhece alguém que vive em prol das redes sociais, em torno de curtidas, de comentários. Quanto mais likes a pessoa tiver, mais valorizada ela é.
O episódio começa com planos abertos, trilha sonora leve, e uma protagonista sorridente. Logo a tecnologia nos é apresentada. É tipo um facebook da vida real, todas as ações das pessoas pudem ser avaliadas entre 1 e 5 estrelas, podem ser comentadas e tudo isso gera reputação naquele mundo. Acabam que as pessoas parecem robôs, Todo mundo simpático demais pra conseguir uma boa avaliação, e absolutamente todas as ações são baseadas em melhorar sua pontuação.
Tá, mas por que é importante ter pontuação elevada? Como eu falei mais acima. Quanto mais pontos a pessoa tiver, mais privilégios ela tem. Como por exemplo, a protagonista vai atrás de uma casa, mas o preço é alto demais, mas se tiver pontuação acima de 4.5 ganha 20% de desconto, mas ela só tem 4.2 e tem que traçar suas estratégias pra melhorar. Outros determinados lugares a pessoa só pode entrar se tiver determinada pontuação, e por aí vai.
Até que chega um convite pra Lacie ser dama de honra e discursar no casamento da Naomie (Alice Eve), amiga de infância dela. Seria esse o momento perfeito pra elevar sua pontuação com todos os convidados da festa, mas em Black Mirror a gente sempre sabe que alguma coisa vai dar muito errado.
As classes sociais são determinadas através do status, e há muito desprezo por quem tem pontuação baixa. Outra clara crítica fortíssima a nossa sociedade, que com certeza é o ponto mais forte do episódio. Como ele consegue prender, alertar e em alguns casos até fazer com que o público reflita determinadas atitudes.
Tecnicamente também nada fica a desejar, fotografia com planos abertos no início, mas no decorrer do episódio os planos vão fechando cada vez mais em closes, mostrando a transformação da protagonista. As cores em sua maioria são claras e leves, mas com o decorrer do episódio vão ficando mais fúnebres. A trilha sonora é ótima, e a mixagem de som é boa, porém irritante. Aquele barulhinho do aplicativo acaba ficando insuportável.
As atuações também são ótimas, a Bryce Dallas Howard tá impecável. É uma personagem estereotipada, mas de propósito. Tentando manter a simpatia exagerada em metade do episódio e depois passar pela transição muito bem feita pras cenas de perda de controle. Quem também tá bem é a Alice Eve e a Cherry Jones, que faz uma participação muito boa e é a responsável por um dos melhores diálogos do episódio. Os demais personagens fazem rápidas aparições.
O episódio acabou se esticando um pouquinho mais do que deveria em cenas que poderiam muito bem ser cortadas, algumas atitudes não fazem nenhum sentido na trama, mas ainda assim é um episódio interessante e reflexivo de ver. Um dos melhores da série.
E cá estou eu avaliando o episódio que critica avaliações...
NOTA: 8.4