CRÍTICA: Quando as luzes se apagam
(Foto: Divulgação/ Warner Bros)

Medo do escuro é um tema mais que explorado no gênero, medo do que se ouve onde já não se pode ver, medo do vulto no canto escuro, medo das fontes de luz que falham anunciando a vinda de algo medonho. Medo de não saber o que esperar logo à frente, do desconhecido ocultado pelas trevas. Um dos medos mais comuns e instintivos da raça humana, mas que aqui é personificado na forma de uma entidade que usa, não do medo, mas do escuro em si para aterrorizar suas vítimas. Quando As Luzes Se Apagam trás um antagonista, um monstro, que não tem medo de aparecer pra câmera. Mesmo durante o dia a coisa é forte, maliciosa e marcante na vida da família e dos locais que assombra. Inteligente, vingativa, homicida e sobrenaturalmente poderosa. A entidade só se torna tátil na escuridão, mas se aproveita dos mínimos cantos e rastros de sombra para influenciar o mundo dos vivos. Além de poder enfraquecer fontes de luz ou literalmente desligá-las. A aparência é simples, medonha e funcional. Seu movimentar é singular, esteticamente falando, é um bom monstro, mesmo que não tenha lá grande ambição. "É mal porquê é". 

Quanto aos personagens humanos, vivos e pertencentes a normalidade, o filme retrata uma família em declínio. A filha mais velha que saiu de casa, deixando a mãe para trás e sua aparente loucura pelo abandono do marido, o filho mais novo que agora é atormentado pela assombração e o rapaz apaixonado pela protagonista, a filha mais velha, que com todo esforço tenta firmar um namoro com a desapegada moça. Como se não bastasse os problemas pessoais, a trama envolve loucura no sentido clínico da coisa, culpa por abandono e vestígios de um passado tenebroso e oculto para todos. Não se trata de uma história onde algo assombrava a casa pra onde se mudaram, ou algo é invocado através de uma maldição. Nada disso. Existem razões específicas para aquilo ter acontecido e tornar a acontecer. E a parte boa é que o filme é objetivo nisso, não apresenta um roteiro que vai mudar sua vida, mas entrega algo de bom tamanho para somar ao clima de tensão.

O medo da "coisa" quando as luzes se apagam é apenas parte do cardápio dos sustos e terror, algo bem situado no longa é o medo da loucura, de como se lidar com mentes que se recusam a ver algo mortal, que o tem como normal e até amigável. Isso agrega muito a atmosfera. Outro ponto positivo é a forma de como a coisa é mostrada. "Um monstro preto que só aparece no escuro", a lógica seria não vermos absolutamente nada, no entanto, silhuetas e tomadas contraluz são muito bem usadas, emoldurando a entidade até nos locais mais sombrios. Isso a faz se misturar, e em diversos momentos você tem a impressão de que algo no relevo unificado de sombras, ao fundo, pode ser ela. O filme abusa um pouco dos sustos com trilha sonora se elevando, os famosos jumpscares. Mas não ofende com isso, em boa parte acontece e engrena com as situações. Tem momentos clichês também, mas eles passam sem desgastar muito a sua paciência. No todo é um bom filme, oriundo de um curta viral, que fez direito na telona.

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