O pronunciamento de Jair Messias Bolsonaro, um presidente da República, é de extrema irresponsabilidade. Ele desperdiça uma enorme chance de espalhar as vozes de seu Ministério da Saúde, que faz um excelente trabalho em meio à crise da pandemia do novo coronavírus, e fazer com que o Brasil pusesse na prática a teoria de estar sempre duas semanas atrasado comparado aos europeus. Logo, caminha no inverso das linhas mínimas de racionalidade humana com sua fantasia de presidente.
O caos da pandemia já atingiu a Europa. Ou seja, a prevenção precisa tomar conta nos países latino-americanos. Preferir economia à vida das pessoas é de extrema ganância. É como se 3 mil mortes, por exemplo, por Covid-19 fosse menos importante que o breque da economia. Essa atitude é compartilhada por empresários como Roberto Justos, famoso apresentador de programa empresarial na televisão, e Junior Duski, dono da rede de restaurantes granfinos Madero, que criticou quarentenas e ainda teve a pachorra de menosprezar mortes: "Eu sei que 5 ou 7 mil pessoas vão morrer, mas nós não podemos parar".
Essa é uma reação desumana de quem exalta a economia sobre as vítimas do Covid-19. O slogan de campanha "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" poderia ser facilmente trocada para "Meu eleitorado acima de tudo, economia acima de todos".
Estados Unidos, China, França, Índia, Alemanha, Reino Unido, Rússia, Holanda e Itália... Os principais países e maiores economias do mundo barraram voos internacionais, decretaram quarentena social, pediram solidariedade e FECHARAM ESCOLAS. Um combatem à pandemia com seriedade e lucidez. Enquanto isso, Bolsonaro vai na contramão e pede para que os brasileiros abaixo dos 60 anos volte à normalidade. E o pior de tudo, ainda pergunta: "Por que fechar escolas?".
A Índia decretou o maior isolamento social do planeta: 1,3 bilhão de indianos em confinamento residencial. E o irresponsável presidente brasileiro dá as costas para assumir a responsabilidade.
Por conta do coronavírus, a Uefa (autoridade máxima do futebol europeu) suspendeu a Champions League e adiou a Eurocopa para 2021; a Conmebol (autoridade máxima do futebol sul-americano) suspendeu a Libertadores e adiou a Copa América também para 2021; até os Jogos Olímpicos de Tóquio foram adiados para ano que vem, medida inédita na história olímpica. E Jair Messias Bolsonaro insiste em dizer que é só uma 'gripezinha'.
E outra: se fosse ao menos um líder responsável, ele faria de um tudo para se aliar aos governadores, ganhar popularidade num combate exemplar ao vírus e, quiçá, sair mais forte da crise. Mas Bolsonaro prefere dar voz a seu círculo eleitoral que até acredita que a Terra Plana e que a pandemia do novo coronavírus é 'a maior manipulação social da história do mundo', como disse o guru do atual governo, Olavo de Carvalho.
Bolsonaro está se afastando dos reflexos
Em todo o planeta os reflexos da crise de saúde pública estarão presentes. Aliás, já aparecem na China e na Europa. É óbvio que a economia será afetada depois das restrições à rotina social. São Paulo e Rio de Janeiro, os dois Estados mais ricos do Brasil, seguem com suas quarentenas porque o governador carioca Wilson Witzel (PSC) e governador paulista João Doria (PSDB) obedecem ordem passadas por especialistas que ocupam as secretarias da saúde de cada um desses Estados e também do Ministério da Saúde Federal.
Ou seja, Bolsonaro opta por fugir da responsabilidade de assumir os reflexos econômicos que virão por causa da pandemia e jogar essa "culpa" — que na verdade não é culpa, mas sim uma consequência natural — nas costas dos governadores. O político que governa o Brasil abre mão de sua responsabilidade para jogá-la a quem dá cara à tapa. Isso é ser maquiavélico.