Destrinchando quatro fatores do sucesso da Alemanha no combate ao novo coronavírus
Foto: Reprodução / ONU

Que a pandemia do novo coronavírus não é totalmente controlável é verdade. Não se coloca um sinal vermelho num semáforo para a Covid-19, mas por quais motivos a Alemanha consegue ter o número de "apenas" 92 mortos em mais de 24 mil casos confirmados. Isso faz com que a taxa de letalidade alemã gire no entorno de 0,39%. E qual é o parâmetro disso? Para se ter noção, a França tem 2% e a Itália 4%. Bem mais altos, não?!

Um dos principais pontos para esse sucesso no país governado por Angela Merkel é a capacidade e estrutura que o sistema de saúde tem na realização de testes. Porém, mesmo assim, a letalidade é bem baixa quando se comparada com a Coreia do Sul, país que tem altos índices de testes e com a taxa em 1%, bem acima que o 0,39% da Alemanha. Então quais são os segredos?

Surto da Covid-19 surgiu mais tarde na Alemanha

O primeiro surto local de contágio dentro da Europa foi registrado na Itália, já em estágio avançado. Automaticamente, os números de italianos mortos sobem constantemente. Somente em um semana, o país da bota registrou o infectado número 20 e a morte número 20. Isso porque a doença demora cerca de duas a três semanas para se manifestar. O "boom" na Itália alertou outros países europeus.

A Espanha, por exemplo, abriu os olhos e detectou o problema do novo coronavírus quando ele já estava passeando pelo território. Mas foi diferente na Alemanha.

No país em que eficácia e seriedade são duas palavras presentes na rotina (a Alemanha, é claro), também foram detectados alguns casos iniciais, e o Governo logo se mexeu. "A Alemanha reconheceu seu surto muito cedo. Duas ou três semanas antes do que alguns países vizinhos. Isso ocorreu porque fizemos muitos diagnósticos, testamos muito. Certamente perdemos casos nessa primeira fase, mas não acho que tenhamos perdido um surto importante", contou o virologista alemão Christian Drosten à revista Zeit. Dessa forma, a taxa de letalidade abaixo pode ser explicada por dois pontos:

DETECÇÃO PRECOCE: com a detecção cedo, a Alemanha consegue localizar, isolar e tratar os jovens, que são mais ativos, viajam mais, trabalham mais e têm mais contatos com outras pessoas, inclusive idosos;

TEMPO: já que o surto foi visto ainda em estágio inicial e território alemão, pode ser que as mortes, pelo tempo de encubação do vírus, comecem a aparecer com mais frequência na Alemanha. Fenômeno assim aconteceu na Coreia do Sul, onde diversos testes também foram feitos, e a taxa de letalidade subiu de 0,5% para 1,1% entre 1 e 20 de março. Ou seja, como o surto na Alemanha é mais recente que o da Itália e da Espanha, pode ser que o número de óbitos alemães cresçam nas próximas semanas.

Na Alemanha, os infectados são mais jovens

Segundo dados do Governo alemão, a idade média das pessoas que contraíram Covid-19 é de 47 anos. Apenas cerca de 20% tem mais de 60 anos, número semelhante ao da Coreia do Sul e totalmente oposto ao da Itália, que tem mais idosos em seu território, deixando a média de seus infectados em 66 anos (58% dos italianos com coronavírus são mais velhos que 60 anos).

A Itália é o país europeu que mais tem idosos acima de 65 anos: 26% de sua população. Na Coreia do Sul (Ásia), essa porcentagem é de 14%. No entanto, na Alemanha, os 25% deixa o país bem perto da Itália nessa questão, não justificando a comparação desses dados.

Fatores culturais também são cruciais, pois, de acordo com dados do Governo chinês, dizem que entre 75% e 80% das contaminações acontecem em ambiente familiar, entre os familiares. Bruce Aylward, comissário da Organização Mundial da Saúde (OMS), ao jornal estadunidense The New York Times. Moritz Kuhn, da Universidade de Bonn, na Alemanha, diz que 20% das pessoas de 30 a 49 anos moram com seus pais na Itália, na China e no Japão. Já na Alemanha, esse número é de 10%, o que rotula os jovens alemães como mais independentes, logo com menos contato com os mais velhos.

Quantidade de testes

O Instituto Robert Koch, responsável pelo controle de doenças na Alemanha, pode fazer 160 mil teste de Covid-19 por semana, chegando a mil testes a cada milhão de pessoas. Na Espanha, esse número é de apenas 625 testes por milhão de pessoas. E, como o óbvio se faz presente, quanto mais rápido você detecta qualquer doença, mais rápido ela pode ser monitorada, controlada, tratada e eliminada, diminuindo a taxa de letalidade do novo coronavírus.

Na Coreia do Sul, são cerca de 5 mil testes por milhão de pessoas (é o país que mais faz testes no mundo). Mesmo com o surto há várias semanas na nação asiática, a taxa de letalidade sul-coreana é de 1,1%, uma das mais baixas, seguindo também no grupo de referências.

Testes pós-morte

Especialistas italianos citam que a Alemanha não fazem o teste do coronavírus após a morte, diferentemente de outras nações, que testam nos falecidos. "Não consideramos os testes post-mortem um fator decisivo. Trabalhamos com o princípio de que os pacientes são testados antes de morrerem", disse o Instituto Kohn à agência de notícias AFP.

Isso significa que, 'caso uma pessoa morra em casa, em quarentena, sem ir ao hospital, há grande chance de  não testada e contabilizada como vítima da Covid-19', esclareceu Giovanni Maga, membro do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália, à TV Euronews.


No sábado (21), o Ministério da Saúde brasileiro ainda acrescentou que a Alemanha tem mais leitos de UTIs que outros países europeus. Juntando todos esses fatores, a baixa letalidade da pandemia do novo coronavírus em território alemão ainda precisa ser sustentada por algumas semanas para ser rotulada, em definitivo, como bem sucedida tendo em vista que esse número deve crescer.

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