Resenha – Outsider de Stephen King
(Foto: Fernando Rhenius)

Sempre que Stephen King apresenta um novo trabalho, existe um misto de euforia e mais do mesmo. Euforia, pois, quem é fã, quer um livro novo toda semana, e em se tratando de King, este sonho não é tão impossível assim.

A parte contrária apresenta sempre o mesmo argumento, “King faz mais do mesmo”. Outsider está aí para provar justamente o contrário. Lançado em maio desde ano nos Estados Unidos, o livro chegou às livrarias brasileiras em junho. Vale destacar o empenho que a editora Suma vem dando aos trabalhos do mestre. A Biblioteca SK está aí para confirmar isso, com títulos como Cujo, A Incendiária, A Hora do Lobisomem e O Iluminado.

Para 2019, A Metade Sombria e Trocas Macabras estão na ordem do dia. Este ano chegam uma nova edição de Celular e o inédito Gwendy´s Button Box, escrito em parceria com Richard Chizmar.

“-Eu gostaria de acreditar em Deus – disse ela -, porque não quer acreditar que apenas sumimos, embora isso equilibre a equação; como viemos do nada, parece lógico supor que é para o nada que voltamos. Mas acredito nas estrelas, na infinidade do universo. Esse é o grande Lá fora. Aqui, acredito que há mais universos em casa punho de areia,porque a infinidade é uma via de mão dupla. Acredito que haja mais uns dez pensamentos na minha cabeça alinhados atrás de cada um do qual estou ciente. Acredito na minha consciência e no meu inconsciente, apesar de não saber o que são essas coisas. E acredito em Arthur Conan Doyle, que fez Sherlock Holmes dizer: “Quando eliminamos o impossível, o que resta, por mais improvável que pareça, deve ser a verdade”. Página 195.

Existem duas maneiras de interpretar e entender Outsider. A primeira é lendo a trilogia Bill Hodges, que brindou os leitores fiéis de King, com um bom e concreto suspense policial. Com personagens cativantes Mr. Mercedes, Achados e Perdidos e Último Turno, surpreenderam críticos e fãs mais ardorosos, que torceram o nariz quando descobriram que se tratava de uma novela policial.

Para King, o lado escuro é sempre mais escuro. Não existiam monstros rastejantes, gosmas escorrendo pelas paredes. O vilão possui poderes, mas nada que um bom revólver não solucione. Outsider apresenta os mesmos ingredientes que a trilogia Bill Hodges, com um toque obscuro. Neste ponto os fãs vão perceber que a mudança no estilo do escritor, se comparadas com os primeiros livros, e aquele terror anos 80, só refinou o trabalho do mestre.

A história se desenrola na fictícia Flint City. Terry Maitland, treinador da liga infantil de beisebol, homem com uma carreira ilibada, casamento sólido e filhos educados, é acusado de violentar uma criança. Se não bastasse a morte de um menino de onze anos chocar a pequena Flint, os meios que Terry utilizou para cometer seu crime, deixaram todos perplexos.

“- Na verdade, não. Já vi Glória feita de sangue pelo menos doze vezes. É um dos melhores do sr. Kubrick. Bem melhor do que O Iluminado (…)” Página 270.

Em cidades pequenas, todos se conhecem. Neste momento entra em cena o detetive Ralph Anderson, homem cético, competente. Tendo uma estima pelo suspeito (Anderson não o chama assim), não hesita em cumprir seu dever de cidadão e policial. Com o andar das investigações, um álibi parece minar os fatos comprovados. Terry não estava na cidade no dia do crime, para piorar, testemunhas corroboram com seu depoimento.

A partir deste ponto o estilo presente em tantos trabalhos de King, mais uma vez é aflorado. Mesmo com a prisão de Terry, as provas, o ceticismo de Anderson é posto à prova. Ele sabe que fisicamente falando, duas pessoas não podem estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Assim um grupo de pessoas com personalidades distintas, aptas a aceitar o inaceitável entram em cena. Conflitos, ego e principalmente acreditar, vão transformando a narrativa em algo que prende o leitor. Quem mataria uma criança? Como uma pessoa pode estar em dois lugares ao mesmo tempo?

King se baseou no conto William Wilson de Edgar Allan Poe. Na história William convive com uma pessoa com as mesmas roupas, gostos e nome. Mesmo que o dia a dia dos dois seja normal e de certa forma lúdico, o “original” acaba se envolvendo com drogas, jogos e prostituição. A “cópia” entra em cena, evitando golpes e roubos.

O Duplo no episódio Luta de Gêmeos, na 7º de Arquivo X. (Foto: Reprodução)
O Duplo no episódio Luta de Gêmeos, na 7º de Arquivo X. (Foto: Reprodução)

Em se tratando de um duplo by Stephen King, a cópia se tornou melhor do que o original. Esta semelhança tem um nome, Doppelganger. A lenda de origem alemã apresenta um monstro, que tem o poder de adquirir a forma de uma pessoa, passando a segui-lá. Geralmente o outro acaba atrapalhando e botando sua cópia em situações complicadas.

Para os fãs que gostam de garimpar referências de outros livros do mestre, Outsider traz muitas. King faz menção a Série Torre Negra e aos Trenton, que sofreram de tudo com um simpático São Bernardo.

“- Linhagem. Tem algo na linhagem que vai além de lembranças e similaridades físicas passadas por gerações. É um jeito de ser. Um jeito de ver. Não é alimento, mas é força. As almas deles se foram, o ka deles, mas sobrou algo, mesmo nos cérebros e nos corpos mortos.” Página 485.

A ligação entre os livros da trilogia Bill Hodges está, em Holly Gibney. A simpática e porque não dizer, exótica assistente do detetive aposentado Hodges, foi uma saudável e divertida adição a história. Com suas manias e percepção aguçada, Holly prova para todos os envolvidos, que nem tudo que anda por aí, é deste mundo.

No campo das comparações Ralph Anderson e Bill Hodges, são pessoas distintas. Enquanto o primeiro possui um sólido casamento, Bill sempre foi um solteirão com graves problemas de saúde. Porém Bill possuiu uma cabeça mais aberta a coisas não convencionais. Holly teve um trabalho redobrado com Anderson, uma pessoa de ação, enquanto Bill era sistemático, metódico e tinha um carisma que deixa saudades.

Existem ligações. (Foto: Fernando Rhenius)
Existem ligações. (Foto: Fernando Rhenius)

Ao contrário dos criminosos dos livros de Agatha Christie, onde a autora deixava para os capítulos finais a revelação de quem matou, como matou e porque matava. King vai nos brindando com revelações desde os primeiros capítulos. A curiosidade fica mas pela forma que o assassino possui, e em qual hora da narrativa os monstros iriam dar o ar da graça.

Os leitores que ficaram presos as primeiras obras de King, podem torcer o nariz para Outsider. Assim como a tecnologia, King também evoluiu, ler uma nova novela, com elementos do nosso dia a dia (Facebook, Google, Ipad, Toyota Prius), podem parecer estranhos, mas necessários. O bom e velho terror ainda está ali, com monstros e coisas rastejando. A maldade de pessoas comuns, a dor de pessoas comum, nos faz pensar que muitas vezes é a ficção que imita a vida.

Ficha técnica

Título original: THE OUTSIDER
Tradução: Regiane Winarski
Páginas: 528
Formato: 16.00 X 23.00 cm
Peso: 0.699 kg
Acabamento: Brochura
Lançamento: 15/06/2018
ISBN: 9788556510679
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