A VAVEL Brasil teve a satisfação enorme de conversar com Arthur Fernandes (26), um cantor-autor (artista que canta o que escreve) e conhecemos um pouco da sua trajetória que já é muito grande na cena independente da cidade de Recife. Em 2017, o músico recifense começou a produzir o seu disco intitulado Bonanza e esse ano o trabalho finalmente ficou pronto, mas mesmo com a grande realização, ele comenta sobre a desigualdade no acesso a música: "eu tenho consciência que não é todo mundo que tem acesso ao CD, por isso eu quero que outros públicos tenham acesso ao meu trabalho, não quero que seja algo capitalista, mas que possam me conhecer e conhecer o meu trabalho", afirmou.

Fernandes é um artista muito eclético, suas referências perpassam muito pela música de Recife (sua cidade-natal), mas ele carrega muito do Rock and Roll alternativo, por já ter tido uma banda marcial. Ele também adentra muito na cumbia, um estilo muito tocado no estado de Pernambuco apesar de ser original da Colômbia. Uma das músicas mais românticas de seu novo álbum Bonanza é Teu Bem, onde ele arranja a canção com um jazz bem calmo, tendo a presença do piano mas sempre marcado pelo seu instrumento mais usado: sua guitarra, que faz uma sobreposição com a bateria em dois intervalos. Ele também é um grande apreciador da música brasileira e comentou sobre suas influências: "agora eu estou ouvindo muito a música do estado do Pará, como: Saulo Duarte, Felipe Cordeiro, Dona Onete, Strobo, porque eu acho que lá é o lugar do Brasil que mais valoriza o som da guitarra."

Por ser um projeto totalmente independente ele afirmou que não trabalha sozinho: "tem uma galera que trabalha comigo, tem minha namorada, Ana Júlia, que faz a produção executiva dos shows, tenho uma banda, até por que eu não toco sozinho e é um negócio meio louco, pois, o cara tem que: marcar ensaio, vender show, fazer redes sociais, escrever a música, gravar, editar, fazer o arranjo, etc. a gente não tem mais aquele negócio dos anos 80 de esperarmos sermos descobertos por algum agente e viajar o Brasil todo, essa não é mais a realidade", desabafou.

As plataformas de streaming, como o Spotify e Deezer são vitrines que ajudam a divulgar o trabalho do artista que faz música, e sobre isso ele faz uma análise: "é muito mais fácil para mim, do que para um ator, um cineasta, colocarem seus trabalhos nessas plataformas. Porém, a gente meio que voltou a pagar para expor nosso trabalho, a gente paga uma empresa para poder colocar nosso trabalho nessas plataformas, coisa que antes não era assim, quando existia o MySpace e outras plataformas", desabafa. Por isso que ele usa também os seus shows para ajudar a promover sua obra: "divulgar a mais pessoas o trabalho e alimentar a nossa caixinha vendendo CD, palheta, camisa, etc. para fazer o rolê acontecer também né?", colocou.

Entrevista com Fernandes

Vavel: Quem te deu apoio quando bate a indecisão?

"Rola de direto indecisão cara, mas eu confesso que tive sorte, é claro que já ouvi pessoas me falando: "pô cara, você é músico, sai dessa que isso não é fulturo", a galera tem muito essa visão de que o cara tem de ter uma carreira, um emprego estável, mas minha mãe e meu pai, apesar de não serem músicos, sempre me apoiaram e o resultado disso é o Bonanza pronto hoje. E para mergulhar de cabeça no que a gente acredita, temos de fazer escolhas. Eu estava em um emprego de 3 anos no Paço do Frevo (Musel do Frevo no Recife), mas se eu não tivesse saído no momento certo, não sei se teria outra chance. Se não fosse minhas escolhas minha família, eu nunca que tocaria no Fig, no Galo e ter mostrado a novas pessoas o meu trabalho e isso enche o life do cara, pois é necessário essa conexão com o outro, sem precisar custar nada, pois esse projeto não é capitalista."

Vavel: Como foi conhecer Eduardo Marinho, como ele gravou um audio para sua música Avante do CD?

"O Eduardo eu conheci a uns quatro meses antes de começar a gravar o disco e eu me identifiquei muito com o trabalho dele. E ele é do Rio de Janeiro e eu estava indo para lá, gravar as guitarras no estúdio do Tostoi, co-produtor do CD, achei o e-mail dele, mas eu nem achei que fosse dá, pois ele não é adepto das tecnologia, não tem celular, WhatsApp, tem Facebook, mas não usa muito. Aí dois dias antes de eu voltar eu conseguir falar com ele e disse: 'pô Eduardo, curto muito teu trabalho, tu poderias gravar um depoimento para mim?' Ele pegou e gravou. Caiu feito uma luva na música, que eu ainda estava em fase de finalização. Conhecer pessoas como Eduardo Marinho foi muito bom, eu queria ter batido mais papo com ele, pois ele é um cara de muitas andanças e eu acho que ele se identificou comigo, porque ele prega que a arte não deve ser capitalista e sim tranformadora. E eu tive a oportunidade, com o projeto de conhecer e trabalhar pessoas, que era fã, como ele, Eduardo, o guitarrista da Devótos, Neilton Carvalho que fez a arte do Bonanza e Manuca Bandini."

Agenda

Fernandes irá fazer uma pequena turner pelas cidades de Recife e Olinda no primeiro semestre, já no segundo ele aterrissará em Fortaleza, Natal, Bahia e depois nas regiões Sul e Sudeste, imperdível!

Álbum completo de Fernandes, com vocês, Bonanza: