Quando me deram a missão de escrever algo sobre o Dia da Mulher, pensei em fazer uma crônica relatando o mesmo problema de assédio nos estádios, em pedir igualdade no esporte, ou, em falar de mim. Mas, de certa forma, falarei de mim aqui. Falarei de uma mulher que me representa. Negra e amante do esporte, que lutou contra a desigualdade ainda na década de 40: Melânia Luz.
Quem foi Melânia?
Nos últimos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, a delegação brasileira contou com mais de 100 mulheres, algo em torno de 45% do total de atletas. Isso é reflexo direto do protagonismo adquirido pelas mulheres no mundo dos esportes, processo que se fortaleceu nas últimas décadas e que consolidou a representação delas nas mais diversas modalidades olímpicas.
Muitos conhecem a história de da nadadora Maria Lenk, primeira mulher a representar o Brasil e a América do Sul numa edição dos Jogos Olímpicos, mais precisamente, nos Jogos de Los Angeles (EUA), disputados em 1932. Seu legado é reconhecido e, como forma de homenageá-la, seu nome foi colocado num dos principais torneios da natação brasileira, batizando também o parque aquático do Complexo Esportivo Cidade dos Esportes, construído no Rio de Janeiro. Entretanto, poucos conhecem a história de Melânia Luz, que realizara, 16 anos depois, em 1948, em Londres, algo igualmente importante e digno de ser lembrado e saudado: se tornar a primeira mulher negra a disputar os Jogos Olímpicos.
“Eu fiquei na história. Eu também competi. Não é que me deixaram.”
Nascida em São Paulo, Melânia fez história na equipe de atletismo do Tricolor Paulista. Atuando como velocista, esteve presente na maior parte das conquistas dos Campeonatos Paulistas e Troféus Brasil de Atletismo nos anos 1940 e 1950. Aos 20 anos de idade, Melânia Luz integrou a primeira equipe feminina do atletismo brasileiro, nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1948. Na prova dos 100m rasos, não passou da fase eliminatória. Ademais, junto à Benedita Oliveira, Elizabeth Clara Muller e Lucila Pini, Melânia também correu o revezamento 4X100m. O quarteto, que chegou a bater o recorde sul-americano da prova, dado à estrutura que os clubes brasileiros possuíam e ao nível técnico das adversárias europeias, no entanto, não conseguiu chegar à fase final.
Naquele ano, o Brasil entrou para a história. O fato de formarem a primeira equipe feminina de atletismo a representar o país numa Olimpíada já constituía uma grande conquista para todas, em especial para Melânia, que cravou seu nome na história como a primeira brasileira negra a participar de uma edição dos Jogos Olímpicos.
Ao longo da carreira conquistou vários títulos, entre os quais se destacam o bronze nos 100m e as medalhas de prata dos 200m e no revezamento 4x100m no Campeonato Sul-americano do Rio de Janeiro, em 1947; e o ouro no revezamento 4x100m e a prata nos 200m rasos no Campeonato Sul-americano, disputado em Lima (Peru), em 1949.
Hoje, o feito de Melânia, nos dá a possibilidade de prestigiar grandes atletas nos Jogos Olímpicos. Como Marta, no futebol, Daiane dos Santos, na ginástica, Sarah Menezes e, recentemente, Rafaela Silva, no judô, Janeth, no basquete, Fofão, no vôlei... Grande, Melânia Luz!
Melânia também é lembrada nas Universidades. No Rio de Janeiro, a atleta dá nome à delegação de esportes do curso de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como forma de eternizar o nome de uma grande mulher no esporte.
Deixo, aqui, meus agradecimentos a quem, com fibra, colocou seu nome na história. Feliz, sim, Dia da Mulher!