Encerrando os desfiles da elite do carnaval carioca, a segunda noite de desfiles do Grupo Especial foi mais leve e menos tensa do que a primeira, sem graves incidentes ou escolas penalizadas. Mesmo com o desfile arrebatador do Salgueiro, não há uma favorita isolada.

Unidos da Tijuca

Após o grave incidente do ano passado - quando um carro tombou e feriu integrantes ainda no setor 1 -, a escola do morro do Borel trouxe componentes emocionados, mesmo com o enredo leve. De fácil leitura, o enredo dos carnavalescos Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo sobre o ator, autor e diretor Miguel Falabella foi divertido e criativo, mesmo que dentro das limitações. A facilidade do enredo também é crédito do samba, que descrevia muito bem os setores e os elementos presentes na escola. As fantasias foram superiores às alegorias, que pecaram na criatividade e contaram com problemas de iluminação. Provavelmente não volta no Sábado das Campeãs, mas valeu para apagar as más lembranças do carnaval passado.

Portela

Na estreia da carnavalesca Rosa Magalhães, a maior campeã do carnaval carioca fez um desfile competente sobre a imigração e não está fora da disputa pelo bicampeonato. Para uma escola de tão forte relação com o público, a sua passagem pela avenida não foi das mais empolgantes. Em compensação, a harmonia da escola não deixou a desejar, com o canto dos componentes ecoando pela Sapucaí. Embora parecesse difícil, o enredo da azul e branca foi executado com perfeição na avenida, contando a história do início ao fim. Enquanto as fantasias estavam irretocáveis, as alegorias - mesmo com belas propostas - apresentavam problemas de acabamento. O segundo carro, que trazia um tatu gigante, apresentou um problema no mecanismo que fazia com que o casco se fechasse. Ainda que não vença, a vaga entre as Campeãs é praticamente certa.

União da Ilha

Com um enredo desacreditado, a União da Ilha surpreendeu mostrando que comida pode dar samba. Mesmo com algumas falhas de acabamento e de execução do tripé, a coreografia irreverente da comissão de frente arrancou risos e conquistou o sambódromo. Um dos grandes destaques do desfile foi a bateria de mestre Ciça com suas paradinhas e até coreografia. No entando, as paradinhas denunciaram que a harmonia da escola estava deixando a desejar no início do desfile. Muito criticado, o samba pegou bem na avenida com toda a competência de Ito Melodia. As gratas surpresas da noite ficaram por conta das alegorias, enormes, imponentes e muito coerentes com o enredo. Considerando a competência também no quesito fantasias, não seria exagero dizer que a escola tem chances de correr por fora e voltar no Sábado das Campeãs.

Salgueiro

Alex de Souza, em sua estreia pela escola após 15 anos de Renato Lage, fez um desfile extremamente competente e confirmou a aura de favoritismo que rondava o Salgueiro, sendo a melhor escola da noite. O enredo, que homenageava as mulheres negras, foi muito bem executado na avenida. O samba, quesito que mais prejudicou a escola no ano passado, recebeu duras críticas, que foram caladas na avenida. O samba pegou facilmente e a harmonia da escola fluiu tão bem quanto a evolução, o que aliviou os componentes. Acostumada a ter problemas com carros alegóricos por conta de seu gigantismo, a escola só ficou devendo na primeira alegoria, que precisou ser consertada quando a escola já estava na avenida. Contudo, nem tudo são flores. O carnavalesco foi criticado por utilizar blackface, ou seja, pintar componentes brancos de preto, na bateria e na comissão de frente.

Imperatriz Leopoldinense

Nesse desfile, a Imperatriz veio "com cara de Imperatriz". Remontando à epoca de Rosa Magalhães, o desfile assinado por Cahê Rodrigues foi luxuoso e contou com alegorias de fácil leitura e muito bom gosto. O samba, muito elogiado, infelizmente não empolgou. A harmonia da escola estava visivelmente comprometida em algumas alas e a evolução pode ter custado pontos cruciais para a escola. A excelente comissão de frente, que veio sem tripés ou elementos cenográficos, demorava demais na realização da coreografia, obrigando a escola a permanecer muito tempo parada na avenida. Com quase uma hora de desfile, a bateria entrou no recuo, mostrando o atraso da agremiação, que teve que correr para não estourar o tempo.

Beija-flor

Com um enredo que prometia o que há muito não sevia na Beija-flor - uma crítica social contundente -, a escola de Nilópolis veio muito diferente do usual. Abdicando do luxo e do brilho, a escola tentou fazer um enredo mais próximo do público, mas pecou ao passar muitas mensagens e críticas ao mesmo tempo, o que deixou a estética visualmente poluída a execução do enredo confusa. A escola pretendia associar a obra de Mary Shelley, Frankenstein, ao atual quadro social, político e religioso do Brasil, mas talvez a ideia não tenha sido executada de forma tão clara quanto se pretendia. Quesitos como evolução, harmonia e mestre-sala e porta-bandeira vieram impecáveis como de costume - sem falar no samba-enredo, que foi um dos mais elogiados do ano. No entanto, há chances de que a escola veja um repeteco do que aconteceu em 2017, perdendo pontos em fantasias e até em alegorias e adereços.