A tão aguardada noite de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro chegou, e não faltou emoção ao público que esperou um ano inteiro para este domingo chegar. O primeiro dia das escolas da elite teve de tudo: azarão encantando, caso da Paraíso do Tuiuti, favorita passando batida, como a Unidos de Vila Isabel, ou até sérios problemas técnicos, como os da Acadêmicos do Grande Rio.
Império Serrano
Valeu pela volta da tradicional escola ao Grupo Especial depois de quase dez anos, mas nada muito além disso. Com um público ainda morno, a primeira escola a desfilar na noite de domingo não pegou na veia com o samba, apesar de bem defendido pelo intérprete Marquinhos Art’Samba. As alegorias, produzidas pelo carnavalesco Fábio Ricardo, tiveram capricho estético, mas algumas fantasias pecaram no acabamento. No fim, um problema no mínimo inusitado: o Império Serrano concluiu seu desfile aos 63 minutos, dois minutos abaixo do tempo mínimo — são 65 minutos permitidos pela LIESA. A entidade, aliás, anunciou que só divulgará se haverá punição ou não na Quarta de Cinzas, dia da apuração.
São Clemente
A escola da zona sul encantou os olhos como os artistas plásticos que homenageou. O carnavalesco Jorge Silveira foi praticamente irretocável nas fantasias para o enredo sobre a Escola de Belas Artes, mas os carros não tiveram o mesmo capricho. O tema profundamente acadêmico, aliás, dialogou pouco com o público. As próprias alas só pareceram mais soltas no final, quando o enredo já tratava do carnaval carioca em si. No microfone, o jovem intérprete Leozinho Nunes mostrou que é um dos mais promissores dessa geração.
Vila Isabel
Muito se esperava da escola de Paulo Barros. Com seu jeito inventivo e um forte suporte financeiro por trás, o carnavalesco tinha tudo em suas mãos, principalmente pelo enredo que tinha a sua cara: as grandes invenções da humanidade, da roda à internet. Com uma comissão de frente bem mais modesta do que costuma apresentar, Barros definitivamente não empolgou, e mais, deixou parte do público sem entender muito bem o que se passava. Algumas fantasias eram volumosas demais, como a das engrenagens, o que prejudicou a evolução da Azul e Branca do bairro de Noel Rosa. Se antes a Vila era uma das favoritas ao título, agora se tornou uma incógnita.
Paraíso do Tuiuti
A principal surpresa da noite chegou para confundir qualquer palpiteiro. A escola de São Cristóvão, que antes figurava como uma das principais candidatas ao rebaixamento, mostrou que carnaval se faz na avenida. Com um belíssimo samba defendido pelo trio Grazzy Brasil, Celsinho Mody e Nino do Milênio, a Tuiuti encantou o público com uma comissão de frente que simulava o açoite dos escravos por parte do capitão do mato, e mais tarde os próprios escravos se tornavam pretos velhos da umbanda. A parte final do desfile, igualmente impactante, trouxe à tona a controversa reforma trabalhista liderada pelo presidente Michel Temer. Este, aliás, veio representado por um vampirão no último carro alegórico.
Crédito: Gabriel Nascimento/RioTur
Grande Rio
A escola de Duque de Caxias tinha a intenção de trazer leveza com o enredo sobre Chacrinha, mas acabou tensa com um sério problema. No desfile de estreia do carnavalesco Renato Lage, a Grande Rio não conseguiu entrar com o sexto carro, que quebrou ainda na concentração, bem longe da avenida. O problema travou completamente a escola, que ficou parada por mais de dez minutos, sem saber como agir. É possível que a tricolor da Baixada seja penalizada pela LIESA. No entanto, ainda que não seja, certamente não passará impune pelos julgadores, já que a ordem de apresentação das alas tornou-se confusa, buracos foram abertos durante o desfile e a explanação do enredo ficou ainda mais prejudicada com a ausência do carro que não desfilou.
Mangueira
É fato que o tão aguardado trabalho de Leandro Vieira não arrebatou a Marquês de Sapucaí, mas também não deixou de emocionar. A bem humorada crítica da Verde e Rosa ao prefeito Marcelo Crivella começou branda, é verdade, mas terminou ácida como o público esperava. Com cores leves, o que já virou característica, Leandro fez da cabeça da escola uma grande homenagem aos antigos carnavais — referências a Zé Pereira, Tia Ciata, Ismael Silva e outros nomes da história do carnaval. No último setor veio a crítica propriamente dita: um carro alegórico com bonecos de arlequins, colombinas e pierrôs esteve lotado de foliões de blocos, como as ruas do Rio de Janeiro. A parte mais polêmica ficou por conta de uma imagem de Marcelo Crivella enforcado como um judas do Sábado de Aleluia.
Crédito: Gabriel Nascimento/RioTur
Mocidade
Última a se apresentar no domingo, a Mocidade Independente de Padre Miguel não empolgou. Talvez tenha sido prejudicada por ter entrado na Sapucaí uma hora depois do previsto, já que a Grande Rio teve problemas com o carro, mas o fato é que a relação entre Índia e Brasil ficou pouco clara na execução do enredo do carnavalesco Alexandre Louzada. Apesar do luxo, as fantasias ficaram de difícil entendimento para o público. Apesar da beleza incontestável, o samba de Altay Veloso, ainda mais melodioso e cadenciado na voz de Wander Pires, não ajudou a levantar a arquibancada.