Ao entrar na Marquês de Sapucaí na segunda-feira de carnaval, o Salgueiro se reencontrará com a própria história. Pioneira ao apresentar enredos com temática negra nos desfiles, ainda na década de 1960, a Academia do Samba sabe que estará confortável com “Senhoras do Ventre do Mundo”, enredo elaborado por carnavalesco Alex de Souza.

Alex chega para substituir Renato Lage, que esteve no cargo por mais de uma década. Com uma tarefa tão desafiadora, o novo carnavalesco não pensou duas vezes em produzir um enredo tão fiel às tradições da escola. O desfile será uma exaltação à força das mulheres negras na história da humanidade, da rainha de Sabá às quituteiras negras da Bahia. O tema, aliás, lembra muito ‘Candaces’, de 2007, assinado por Renato Lage e Márcia Lage, sobre as rainhas da candaces da África Oriental. Na ocasião, o Salgueiro ficou em sétimo, posição considerada injusta por boa parte de seus torcedores à época.

A relação entre o Salgueiro e os livros de história da África vem da década de 1960, com a chegada do carnavalesco Fernando Pamplona. Em 1960, a escola foi campeã pela primeira vez com o enredo sobre Quilombo dos Palmares. Em 1963, sob o comando de Arlindo Rodrigues, outra vitória, desta vez com Chica da Silva. Em 1969, com “Bahia de todos os deuses”, em 1971, com “Festa para um rei negro”, e em 2009, com “Tambor”, a Academia faturou outros títulos com a negritude em pauta.

“Na força de seu ritual sagrado”, como diz o samba da escola, Alex de Souza busca reafirmar o laço do Salgueiro com a negritude e, de quebra, voltar a trilhar o caminho das vitórias.