“Menino de 47, de ti ninguém esquece”, diz um velho samba de Campolino e Molequinho, cantado pelas ruas de Madureira. De fato, nenhum fã de carnaval esqueceu a força do Império Serrano, mas já sentiam falta de vê-lo desfilar nos domingos e segundas de carnaval. A tradição reencontrou seu lugar, e a hora enfim chegou: depois de oito anos desfilando na Série A, a comunidade do Morro da Serrinha retorna ao Grupo Especial para “matar a saudade”, como diz o verso de seu samba.
Já não era sem tempo: a última vez que a escola esteve na elite do carnaval carioca foi em 2009, quando reeditou “A lenda das sereias e os mistérios do mar”, e foi rebaixada. Para 2018, a Verde e Branco de Madureira, nove vezes campeã, resolveu levar à Avenida a história de outro império, o chinês, no enredo “O Império na rota da China”.
Lucas Donato, de apenas 21 anos, é um dos autores do samba para 2018. A escola na elite tem um sabor ainda mais especial para o jovem compositor, que cresceu com a Verde e Branco no Acesso. “Em 2009 tinha 13 anos e já era da bateria. Pra mim foi muito difícil ter que ficar 8 anos com tantos problemas internos e externos da nossa escola, que prejudicava sempre nos nossos desfiles. A volta foi um sentimento de alívio. É tipo você ficar no fundo do poço por anos e do nada jogarem uma corda pra você sair desse lugar”, afirmou o compositor, em tom de desafogo.
Durante a trajetória na Série A, o Império Serrano bateu na trave algumas vezes para voltar ao Especial. A mais dolorosa das derrotas foi em 2012, com o enredo em homenagem a Dona Ivone Lara – a escola foi vice-campeã e a Inocente de Belford Roxo subiu na ocasião. No ano seguinte, com “Caxambu, o milagre das águas”, o Império ficou em terceiro, atrás do Império da Tijuca e da Viradouro. A posição se repetiria em 2015, com “Poemas aos peregrinos da fé”, quando a Estácio de Sá e Unidos de Padre Miguel ficaram na frente.
A volta ao Grupo Especial chegou em um 2017 particularmente delicado para os bambas do Império Serrano. Em março, Arlindo Cruz sofreu um acidente vascular cerebral. Ele segue internado, e de acordo com a família a recuperação é lenta, mas positiva. Em agosto, o músico Wilson das Neves, outro famoso representante da agremiação, morreu aos 81 anos, vítima de um câncer. A referência aos mestres gera ainda mais força para fazer um desfile que garanta a permanência no Grupo Especial, algo tão raro para as escolas que sobem no ano anterior.
“O Império simplesmente tem que desfilar como Império: grande, para emocionar, e aí é esperar que a justiça seja feita!”, finalizou Donato.