A prefeitura do Rio de Janeiro pretende usar o espaço Parque dos Atletas, localizado na Zona Oeste da cidade, para a apresentação de blocos no carnaval de 2018. O local, usado para a realização das edições do Rock in Rio de 2011 a 2015, conta com capacidade para 100 mil pessoas e terá entrada gratuita. Segundo a Riotur, não se trata de uma transferência do carnaval para o Parque, que se chamará Arena Carnaval Rio, mas sim de uma alternativa. As lideranças dos blocos de rua, no entanto, discordam.
Em coletiva, Marcelo Alves, presidente da empresa municipal, afirmou que o foco da Arena é conferir mais conforto aos foliões, disponibilizando um local com mais ordenamento que contará com postos médicos e banheiros químicos. Além disso, a Riotur informou que somente os blocos que desfilavam na Praia do Pepê, também na Barra da Tijuca, serão obrigatoriamente transferidos para a Arena, em decorrência dos transtornos do ano passado, que incluíram saques às lojas, brigas e foliões subindo em automóveis.
Além da transferência destes blocos, o Cordão do Bola Preta e o Bloco da Anitta, além de seus desfiles tradicionais, também se apresentariam na Arena, o que esbarra em questões de logística e superlotação. Enquanto os blocos que desfilaram na Praia do Pepê atraíram 100 mil pessoas por dia, o que está dentro da capacidade estipulada para a Arena, o Bloco das Poderosas contou com mais de 400 mil foliões, enquanto o público do Bola Preta chega à casa dos milhões.
Organizações de blocos de rua desaprovam
Ainda que o dirigente da Riotur tenha declarado que não há a intenção de “tirar a espontaneidade, a liberdade, a tradição do carnaval de rua”, os representantes de diversas ligas de blocos de rua possuem uma posição contrária à iniciativa. Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, liga responsável por blocos famosos como Carmelitas, Escravos da Mauá e Simpatia É Quase Amor, declarou ser contra transformar a arena no modelo do carnaval.
Em agosto de 2017, ao surgirem os primeiros indícios de criação da Arena, a Liga dos Amigos do Zé Pereira se declarou “contra qualquer tipo de descaracterização do carnaval de rua do Rio de Janeiro” em seu facebook oficial, defendendo que as decisões relativas ao carnaval devem ser tomadas com base no diálogo e não por meio de decretos. Em setembro, a Folia Carioca fez uma declaração no mesmo tom, reivindicando maior participação e protestando contra decisões unilaterais por parte do poder público.
Em meio a um clima de desconfiança e temor por uma possível segregação dos blocos de rua, a prefeitura anunciará os detalhes sobre o projeto em uma coletiva de imprensa no Palácio da Cidade, em Botafogo, no dia 15 de janeiro.
Histórico ruim entre a gestão e o carnaval
A proposta da Arena pela Riotur é mais uma marca da trajetória conturbada entre o prefeito Marcelo Crivella e o carnaval carioca desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2017.
No início do ano, o prefeito foi criticado por não participar da entrega das chaves da cidade ao Rei Momo, tradição que marca o início do carnaval. Em julho, organizadores dos blocos reclamaram do caderno de encargos que reúne os parâmetros necessários para a realização dos desfiles, alegando que ele dificultaria a saída dos blocos e causaria um esvaziamento do carnaval. A presidente da Sebastiana se manifestou também nessa ocasião, atribuindo as decisões restritivas a uma “questão ideológica do prefeito”, que é evangélico.
Além disso, Crivella também se indispôs com as Escolas de Samba, cortando pela metade a verba utilizada para a realização dos desfiles do Grupo Especial. Escolas ameaçaram não desfilar caso a decisão não fosse revertida e a LIESA, Liga Independente das Escolas de Samba, chegou a suspender a realização dos desfiles após a decisão. No entanto, a prefeitura seguiu com o corte e, em novembro, foi a vez do Grupo de Acesso A ter seu orçamento reduzido pela metade.