Arenas 'Padrão Fifa' se tornaram elefantes brancos e nutriram a corrupção no Brasil
Arena da Amazônia só viveu dias de grandes públicos no mundial (Foto: Portal da Copa)

Há três anos, o Brasil viveu uma das maiores festas do esporte. No dia 12 de junho de 2014, a bola rolou no campo da Arena Corinthians para o primeiro jogo da Copa do Mundo Fifa daquele ano. O confronto foi entre a Seleção Brasileira e a Croácia, e de lá para cá, muita coisa mudou dentro e fora de campo.

Após esses três anos, o que os governantes da época chamavam de “legado da copa” hoje são apenas elefantes brancos, que consumiram milhões e milhões de reais de dinheiro público. A Operação Lava Jato, que prendeu muitos políticos envolvidos com o mundial, também chegou às arenas construídas ou reformadas para a Copa do Mundo.

Delações de ex-executivos das construtores Odebrecht, e da Andrade Gutierrez citam nove dos 12 estádios utilizados como "palco" de crimes como cartel, pagamento de propinas e também caixa 2. A corrupção rendeu aos acusados de ter se beneficiado de tal filão, políticos e autoridades, pelo menos R$ 120,9 milhões.

O valor pode ser até considerado pequeno diante dos R$ 8,3 bilhões que custaram as arenas de acordo com a versão final da Matriz de Responsabilidades. As situações mais absurdas acontecem em cinco das 12 sedes: Cuiabá, Brasília, Manaus, Natal e Recife.

O ex-secretário-geral Jérôme Valcke e o ex-presidente da FIFA Joseph Blatter e são suspeitos de corrupção e estão banidos do futebol (Foto: Portal da Copa)
O ex-secretário-geral Jérôme Valcke e o ex-presidente da Fifa Joseph Blatter são suspeitos de corrupção e estão banidos do futebol (Foto: Portal da Copa)

E o cenário desses estádios “padrão Fifa” são parecidos: cadeiras vazias e acumulo de gastos por não suprirem os altos gastos de manutenção. A Arena Pantanal em Cuiabá, por exemplo, recebe todos os dias mais de 300 pessoas, mas que não estão indo a um jogo de futebol e sim indo para a escola.

O estádio com capacidade para 41 mil pessoas é hoje um colégio estadual para alunos de 12 a 17 anos. Essa passou a ser a principal função da arena, que ficou às moscas pela escassez de jogos e eventos, que quando aconteciam, nunca conseguiram atrair bom público. Os custos para a sua manutenção são de R$ 700 mil por mês, gerando um prejuízo de milhões para o Estado, por mês.

Uma escola estadual para 41 mil pessoas. Essa é a nova função da Arena Pantanal (Foto: Portal da Copa)
Uma escola estadual para 41 mil pessoas. Essa é a nova função da Arena Pantanal (Foto: Portal da Copa)

Em Recife, o caso da Arena Pernambuco é ainda mais bizarro: a cidade tem três clubes fortes e tradicionais, mas a Arena Pernambuco, construída em um local afastado da capital, não tem atraído torcedores como se esperava e agora também sofre para fechar as contas. A estimativa é que os cinco "elefantes brancos" citados acima dão um prejuízo anual aos cofres públicos de mais de R$ 30 milhões.

A Arena da Amazônia, depois do Mundial, foi palco de partidas de futebol da Olimpíada e de amistosos da Seleção Brasileira, e sediou partidas de clubes cariocas como Flamengo e Vasco, que têm um bom número de torcedores em terras amazonenses.

A arena tem um custo de R$ 550 mil por mês para manutenção e para reduzir o deficit, a administração do estádio aposta no futebol local, para que ele possa "se pagar" já no ano que vem e, no futuro, ser até uma fonte de recursos para o governo.

(Foto: Portal da Copa)
(Foto: Portal da Copa)

A Arena das Dunas, em Natal, também depende dos cofres públicos para se pagar. Um dos mais utilizados no período pós-Copa, a arena de Natal agora recebe poucos jogos e, segundo levantamento da revista Época, acumulou mais de R$ 35 milhões de prejuízo entre 2014 e 2015.

O estádio de Brasília, com capacidade para 72 mil pessoas, foi o mais caro da Copa do Mundo, chegando a custar quase R$ 2 bilhões. Atualmente, os ex-governadores do Estado José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador de Brasília Tadeu Filippelli (PMDB) estão presos suspeitos de participar de um esquema de superfaturamento de até R$ 900 milhões na arena.

O estádio gera um prejuízo anual de mais de R$ 6,4 milhões. Com um custo mensal de R$ 700 mil, o Mané Garrincha tem sobrevivido de shows nacionais, eventos sociais, como formaturas e festas evangélicas, e raros jogos. Em 2016 foram apenas 60 eventos, sendo 14 deles partidas de futebol.

O estádio mais caro da Copa do Mundo, o Mané Garrincha, já mandou 3 políticos para a cadeia suspeitos de superfaturamento. (Foto: Portal da Copa)
Estádio mais caro da Copa do Mundo, o Mané Garrincha já mandou três políticos para a cadeia; eles são suspeitos de superfaturamento (Foto: Portal da Copa)

O governo do Distrito Federal passou também a abrigar secretarias nas dependências do Mané Garrincha, desde 2015. As pastas de Economia, Desenvolvimento Humano e de Esporte e Lazer despacham em salas internas do estádio. Segundo o governo, era uma forma de reduzir os gastos com aluguel de imóveis em mais de R$ 10 milhões.

Nem o palco da final escapou de um período "ocioso" por problemas com o consórcio, governo e a operação Lava Jato. (Foto: Portal da Copa)
Nem o palco da final escapou de um período "ocioso" por problemas com o consórcio, governo e a operação Lava Jato (Foto: Portal da Copa)

Como “bônus” temos o Palco da final do Mundial, o Maracanã. O “Maior do Mundo”, de acordo com relatos feitos pelo ex-presidente da Construtora Odebrecht, Benedito Barbosa Junior, ao Ministério Público Federal, teria dado só para o ex-governador do Rio Sergio Cabral(PMDB) mais de R$ 6,3 milhões em pagamentos ilegais relacionados às obras. O estádio, que era gerido por um consórcio, foi devolvido ao estádio e por muito tempo ficou abandonado e impossibilitado de receber jogos de futebol.

Até o ano passado, os governos da maioria desses estados tentaram um paliativo, quando compravam mandos de campo de grandes clubes do sudeste, como Flamengo e Corinthians. Mas a CBF proibiu que as equipes transferissem seus jogos para outros Estados, matando mais esse suspiro de não se gastar tanto dinheiro público com os estádios. E entre os 12 estádios construídos ou reformados para a Copa, apenas duas arenas não estão tendo suas obras investigadas: o Beira-Rio e a Arena da Baixada.

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