Quando entrei na faculdade, sabia que seguiria para o mundo esportivo assim que formasse. Escolhi o jornalismo pois queria contar histórias às pessoas. Era um desejo que seria conquistado a longo prazo, já que histórias eram contadas por homens, e a presença da mulher no esporte era ignorada. A sociedade nos intitulava como sexo frágil e fraco, aquelas que "não entendiam" sobre o assunto.
Nunca escondi a minha preferência. Tenho uma paixão enorme por esportes desde muito nova e tinha essa vontade de ter um lugarzinho neste espaço, que, até então, sempre foi "dominado" pelo universo masculino. Busquei me enquadrar, estudei, me especializei e vi que era o que realmente queria.
A gente cresce ouvindo muita coisa. Só menino pode jogar bola e ter um videogame. Menina só podia jogar vôlei, queimada, brincar de boneca, de casinha e olhe lá. A menina tinha que torcer para o mesmo time do pai, mas não podia ir ao estádio porque era "coisa de menino". Só que isso mudou. A mulher está mais independente: torce para o time que quer, acompanha as notícias, comenta, participa das competições, vai apoiar a equipe e, porque não, se alegrar com as conquistas ou chorar com as derrotas e eliminações em grandes campeonatos?!
Assim como em outras profissões, a mulher no jornalismo esportivo também passa por certas situações, muitas delas constrangedoras. Não somos tão respeitadas quanto um profissional do sexo masculino, mesmo - as vezes - sendo mais competentes que muitos.
O homem ainda não sabe lidar com a mulher que entenda mais do que ele e, de alguma forma, tenta diminuí-la. Já vivenciei muita coisa por estar rodeada de caras numa cobertura, às vezes, sendo a única mulher ali presente. Você ouve de tudo e é tratada como bem querem, te assediam, te xingam... Não é levada a sério nas entrevistas de beira de quadra, campo ou coletivas. O tom não muda, riem da sua inexperiência ou nervosismo no início. Anos dedicados para estar ali, no mesmo padrão, e recebe alguns tipos tratamentos que nem vale a pena comentar...
Apesar de existir mulheres que se destacam no meio, o preconceito ainda existe. Há resistência em passar pautas em determinados esportes, território onde o machismo impera. Mesmo com tantos obstáculos, a mulher tem se mostrado, sim, capaz de realizar o papel de cobrir, comentar, narrar, apresentar programas esportivos com zelo, bom humor e criatividade.
É complicado ser mulher nessa era das mídias sociais, ou melhor dizendo, "mundo dos sem limites". Você não pode ter seu time do coração, não pode ter uma opinião diferente. Te rotulam. Se cobre uma determinada equipe, as pessoas acham que você também é torcedora e, na verdade, não é. A partir do momento em que se escreve o que outro não gosta, te detonam, mesmo! Se você consegue uma informação privilegiada, é porque você é bonitinha ou porque está saindo com fulano, nunca por sua competência. Isso chateia.
Evito comentar sobre o meu time nas minhas redes porque sei como é o tratamento. Não é fácil escrever sobre basquete também. Você sofre uma pressão. Vejo colegas de profissão que abandonam as coberturas com o psicológico abalado por conta da chuva de palavras ditas por pessoas que você nunca viu na vida, que esquecem que ali tem um ser humano com sentimentos, como qualquer outro. Pessoas que esperam um erro seu e dizer "errou porque é mulher".
Já superamos barreiras para chegarmos até aqui. O machismo não vai acabar, mas, hoje, sabemos lidar com essas situações como gente grande, impondo respeito e não dando liberdade para certas brincadeiras. Por outro lado, é muito bom ter o reconhecimento de um trabalho bem feito, ter aquele leitor que fala "adorei seu texto". É um combustível para continuar fazendo a diferença.
Neste dia 8 de março, eu gostaria de parabenizar a todas nós, mulheres, que têm sonhos e correm atrás deles, têm objetivos, desejos e algumas vezes parecem carregar o mundo nas costas, enfrentam dificuldades, mas não desistem. Somos guerreiras e merecemos respeito, reconhecimento e admiração todos os dias.
Deixo esta mensagem para todas as redatoras e leitoras da VAVEL: "Ser mulher é viver mil vezes em apenas uma vida, é lutar por causas perdidas e sempre sair vencedora, é estar antes do ontem e depois do amanhã, é desconhecer a palavra recompensa apesar dos seus atos. Ser mulher é acima de tudo um estado de espírito, é ter dentro de si um tesouro escondido e ainda assim dividi-lo com o mundo. Feliz Dia Internacional da Mulher".
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O Dia da Mulher VAVEL contém uma série de especiais que preparamos para homenagear as rainhas deste 8 de Março. As opiniões apresentadas pelas redatoras participantes detém total apoio da Equipe VAVEL. Acesse o site e confira mais histórias como essa. Feliz Dia da Mulher!