Grande parte dos estudantes que sonha em atuar na área esportiva do jornalismo escolheu a profissão devido à paixão por determinado time de futebol. Porém, quando a oportunidade de trabalhar em um grande veículo de comunicação aparece, a dúvida vem à mente: será que há problema em revelar o time de coração? Assim, a VAVEL Brasil foi atrás de jornalistas e torcedores para saber quais suas opiniões quanto à posição do “torcer ou não torcer” no jornalismo esportivo.
Gian Oddi, jornalista e comentarista da ESPN, afirmou que prefere não se manifestar como torcedor enquanto atua para evitar posteriores situações de má fé que possam vir a deslegitimar seu trabalho. No entanto, ele não esconde para qual time torce. Adepto da Roma, Gian não vê problema em um profissional da área torcer por um clube de fora do Brasil.
“Talvez com exceção de Real Madrid e Barcelona, que já são capazes de causar certa histeria numa nova geração de brasileiros, declarar torcida para um time estrangeiro não é um problema. É bem diferente das consequências que um jornalista pode ter que suportar ao declarar torcida para um time no Brasil”, disse. “Com raríssimas exceções, o que rola é apenas algumas brincadeiras absolutamente normais no universo de torcedor. Tiração de sarro faz parte da vida do torcedor, e a hora que você declara torcida tem que aturar brincadeiras. Ainda mais se você torce para a Roma”, brincou.
Jornalista e comentarista dos canais Fox Sports, Rodrigo Bueno disse que a escolha do profissional em revelar seu time de coração é pessoal, mas criticou os jornalistas que optam por mentir para qual clube são apaixonados.
“Entendo que isso é uma decisão individual e deve ser respeitada. Há quem ache que revelar o time pode trazer prejuízo para a carreira, e há quem revele o time sem problemas achando justamente o contrário. Jornalistas de política revelam seus partidos e políticos preferidos? Jornalistas de cultura revelam obrigatoriamente suas bandas e artistas prediletos? Cada um define o que revela ou não. Particularmente, eu não gosto muito de quem mente para qual time torce. Omitir eu entendo e respeito, mas mentir é outra coisa”, afirmou.
Léo Figueiredo, repórter da Rádio Itatiaia, não vê problema caso o profissional revele seu clube de coração, mas ponderou para as possíveis consequências. “Eu não sou contra o jornalista expor o time que ele torce. Eu só acho que o mundo que a gente vive hoje ficou perigoso se expor. Não por causa do jornalista, mas, infelizmente, pela intolerância que existe no mundo. Casos como a gente vê em brigas, nas guerras de religião, nas brigas políticas, e isso chega ao futebol também”, ressaltou.
Autor do livro “Cruzeiro Tetracampeão Brasileiro 2014”, o jornalista Guilherme Guimarães contou que já sofreu a ira de alguns torcedores por expor seu time do peito. Ele também alertou para os profissionais que encobertam problemas do clube para qual torcem.
“Já fui criticado, assim como vários outros jornalistas que revelaram ou tiveram revelada a sua preferência clubística. No entanto, o que vale é se ater aos fatos, não deixar de publicar as informações da forma como elas se apresentam. Resumindo, não deixar de falar sempre a verdade. Atualmente, alguns profissionais escondem debaixo do tapete problemas do clube para qual torcem. Deixam de noticiar o que de fato é necessário. E isso vai contra um dos princípios da profissão, que é a ética jornalística e imparcialidade”, avisou o cruzeirense Guilherme.
Ana Carolina Silva, repórter da Gazeta Esportiva, alertou para o fardo que o profissional irá carregar durante a carreira caso revele para qual time torce. No entanto, a são-paulina destacou aquilo que geralmente faz a pessoa escolher o jornalismo esportivo: a paixão por um clube.
“É um risco e um peso extra que cada um sabe se está disposto a carregar ou não, por isso não vejo qualquer uma das duas decisões [revelar ou não o time] como um defeito do jornalista. É importante ressaltar que um profissional está mentindo se disser que não tem um time do coração. Nós entramos nessa barca da cobertura esportiva porque fomos apaixonados por um clube em algum momento da vida. Não há paixão pelo futebol de quem não seja torcedor. Ninguém vira aviador por acaso, é preciso gostar de aviões e da ideia de voar”, afirmou Ana Carolina.
Opinião da torcida
O experiente professor de Comunicação Social Getúlio Neuremberg, de 46 anos, afirmou que o jornalista esportivo não deve declarar abertamente para qual time torce. Segundo Getúlio, a melhor opção para o profissional é deixar de lado a emoção clubística quando for atuar.
“Em geral, o jornalista esportivo tem que atuar como jornalista e esquecer seu lado torcedor quando está atuando na profissão. Essa mistura geralmente não é boa, na maioria das vezes, porque compromete a isenção e a credibilidade. Mas é preciso que o jornalista seja jornalista. É bom não misturar as coisas”, opinou Getúlio Neuremberg, que é torcedor do Cruzeiro.
Por outro lado, o jovem Daniel Henrique, 18, membro da torcida organizada do Atlético-MG, Galoucura, não vê problema. “Não sou contra. Ele [jornalista] pode demonstrar a sua expressão futebolística, seu time de paixão. Acredito que não tenha nada a ver revelar o time que ele torce”, disse.